O Caminho da Cruz

Paul Claudel. Paris, 1911 depois de Cristo.

Tradução de Marcelo Consentino

PRIMEIRA ESTAÇÃO

       Acabou. Nós julgamos Deus e nós o condenamos à morte.
       Não queremos mais Jesus Cristo conosco, pois ele nos constrange.
       Não temos outro rei além de César! só a lei do sangue e do ouro é forte!
       Crucificai-o, se o quereis, mas nos desvencilhem dele! levem-no longe!
       Tolle! Tolle! Tanto pior! pois é preciso, que o imolem e nos deem Barrabás!

       Pilatos se senta no lugar chamado Gabatá.
       “Não tens nada a dizer?” diz Pilatos. E Jesus não responderá.
       “Eu não vejo nenhum mal neste homem”, diz Pilatos, “mas bah!
       Que morra, se querem tanto! Eu vô-lo dou. Ecce homo.

       Eis aí, a coroa na cabeça e a púrpura no ombro.
       Uma última vez a nós estes olhos plenos de lágrimas e sangue se dão!
       Que podemos nós? de guardá-lo mais conosco já não há mais condição.
       Tal como ele foi um escândalo para os judeus, foi um nonsense em nossa opinião.
       De resto, nada falta, em língua hebraica, grega e latina foi lavrada a decisão.
       E vemos o povo que grita e o juiz que lava a sua mão.

SEGUNDA ESTAÇÃO

       Rendem-lhe suas vestes e a cruz é aportada.
       “Salve”, diz Jesus, “ó Cruz por tanto tempo desejada!”
       E tu, olha, cristão, e estremece! Ah, que instante solene
       É este onde o Cristo pela primeira vez aceita a Cruz perene!
       Ó consumação neste dia da árvore no Céu!
       Olha, pecador, e vê a que serviu o pecado teu!
       Mais crime sem um Deus acima e mais cruz sem o Cristo!
       Decerto a miséria do homem é grande, mas não temos nada a dizer,
       Pois Deus agora está acima, e veio não explicar, mas preencher.
       Jesus recebeu a Cruz como nós recebemos as Santas Eucaristias:
       “Nós lhe damos lenho por seu pão”, como foi dito pelo profeta Jeremias.
       Ah, como a cruz é longa, e como é enorme e difícil!
       Como ela é dura! como é rígida! como é pesado, o peso do pecador inútil!
       Como é longo suportar passo a passo até morrer na cruz!
       Sois vós que ireis portar isso sozinho, Senhor Jesus?

       Fazei-me por meu turno paciente do lenho que quereis que eu suporte.
       Porque nos cabe portar a cruz antes que a cruz nos porte.

TERCEIRA ESTAÇÃO

       Avante! ora vítima ora carrasco, tudo o Calvário desterra.
       Deus puxado pelo pescoço tropeça e cai por terra.

       Que dizeis, Senhor, deste primeiro tombo bruto?
       E já que agora sabeis, que pensais? este minuto
       Onde se cai e onde vos precipitam estas mal cruzadas hastes!
       Como vos parece, esta terra que
criastes?
       Ah, não é somente a rota do bem que é escabrosa.
       Aquela do mal, também ela, é pérfida e vertiginosa!
       Nada a fazer senão ir tudo reto, pedra a pedra cabe se instruir,
       E o pé falta com frequência, mas o coração insiste em persistir.
       Ah, Senhor, por estes joelhos que um a um vos faltaram, joelhos sagrados,
       Pela ânsia repentina e a queda ao pé da Via dos desgraçados,
       Pela emboscada que deu certo, pela terra ensinada por vós,
       Do primeiro pecado que se comete por supresa, salvai todos nós!

QUARTA ESTAÇÃO

       Ó mães que vistes o primeiro e único filho morrendo,
       Lembrai-vos daquela noite, a última, junto ao serzinho gemendo,
       O termômetro, o gelo, a água que tentam lhe dar,
       E a morte que vem pouco a pouco e que já não se pode ignorar.
       Calçai-lhe os pobres sapatinhos, mudai seus panos, seu macacão.
       Vem aquele que o tomará de mim e o enterrará num caixão.
       Adeus, meu filhinho! Adeus, coração de meu coração!

       A quarta Parada é Maria que aceitou indefesa.
       Ei-la aqui no canto da rua que espera o Tesouro de toda Pobreza.
       Seus olhos não tem prantos, sua boca não tem saliva.
       Ela não diz uma só palavra e olha Jesus compassiva.
       Ela aceita. Ela aceita uma vez mais. O grito
       É severamente reprimido no coração forte e estrito.
       Ela não diz uma só palavra e olha Jesus Cristo.
       A Mãe olha seu Filho, a Igreja o seu Redentor,
       Sua alma violentamente vai a ele qual o grito de morte do lutador!
       Ela está de pé ante Deus e oferece a Ele a alma para que a admire.
       Não há nada em seu coração que recuse ou que retire,
       Nenhuma fibra de seu coração trespassado que não aceita e não consente.
       E como o próprio Deus que está ali, ela está presente.
       Ela aceita e olha o Filho que lhe cresceu do seio em acalantos.
       Ela não diz uma palavra e olha o Santo dos Santos.

QUINTA ESTAÇÃO

       O instante chega onde já não dá mais e não se pode mais seguir.
       É aí que encontramos juntura e onde vos dignais a permitir
       Que empreguem cada um à vossa Cruz, mesmo forçado.
       Tal Simão o Cireneu a este pedaço de lenho atrelado.
       Ele o empunha solidamente e caminha atrás de Jesus,
       Afim de que nada se arraste nem se perca da Cruz.

SEXTA ESTAÇÃO

       Todos os discípulos fugiram, Pedro mesmo renega com transporte!
       Uma mulher no auge grosso do insulto e no centro da morte
       Se joga e chega a Jesus e toma seu rosto entre uma e outra mão.

       Ensina-nos, Verônica, a enfrentar nossa vil inibição.
       Pois aquele a quem Jesus Cristo não é somente imaginado, mas vivo,
       Aos outros homens logo se torna suspeito e repulsivo,
       Seu plano de vida é inverso, sua motivação não é mais consoante.
       Há qualquer coisa nele que sempre escapa e que está distante.
       Um homem feito que reza seu terço e que vai impudente se confessar,
       Que jejua na sexta e que veem na missa entre mulheres a rezar,
       Isso faz rir e choca, é engraçado e é também irritante
       Que fique atento ao que faz, pois sobre si há um olhar vigilante.
       Que fique atento a cada um de seus passos, pois ele é um signo.
       Pois todo Cristão de seu Cristo é um ícone real embora indigno.
       E o rosto que ele mostra é o reflexo trivial
       Desta Face de Deus em seu coração, abominável e triunfal!

       Deixa-nos, Verônica, olhá-la mais um tanto,
       Sobre o lenço onde tu a recolheste, a face do Viático Santo.
       Este véu de linho piedoso onde Verônica ocultou
       O rosto do vindimador no dia em que se embriagou,
       Para que eternamente suas faces fiquem gravadas
       Numa imagem feita de seu sangue, suas lágrimas e das nossas cusparadas!

SÉTIMA ESTAÇÃO

       Não é a pedra sob o pé, nem o
grilhão
       Puxado aos trancos, é a alma que falta de supetão.
       Ó meio de nossa vida! ó queda em que caímos ao léu!
       Quando o amante não tem mais pólo e a fé não tem mais céu,
       Porque a rota é longa e porque o termo está distante,
       Porque se está sozinho e a consolação é faltante!
       Lonjura do tempo! aflição que cresce sorrateira
       Da injunção inflexível e dessa colega de madeira!
       Por isso um a um se estendem os braços qual um nadador que não para!
       Já não é sobre o joelho que se cai, é sobre a própria cara.
       O corpo desaba, é verdade, e a alma também deu consentimento.

       Salvai-nos da Segunda queda que se dá por voluntário aborrecimento.

OITAVA ESTAÇÃO

       Antes que ele suba uma última vez sobre a montanha
       Jesus ergue o dedo e se volta para o povo que o acompanha,
       Algumas pobres mulheres aos prantos, em cada regaço uma criança.
       E nós, não olhamos somente, escutamos Jesus que avança.
       Não é um homem que ergue o dedo em meio a esta pobre iluminura,
       É Deus que para nossa salvação não sofreu somente em pintura.
       Assim este homem foi o Deus Todo-Poderoso, é verdade portanto!
       Existe mesmo um dia no qual Deus sofreu por nós este tanto!
       Qual é ele então, o perigo que fez tão caro o preço do nosso resgate?
       A salvação do homem é negócio tão simples que para seu arremate
       O Filho do seio do Pai é obrigado a se arrancar.
       Se é assim com o Paraíso, do Inferno que esperar?
       Que se fará do lenho morto, se assim se faz do lenho a brotar?

NONA ESTAÇÃO

       “Eu caí de novo, e desta vez, é
o fim.
       Que não há meio, eis o que quis revelar a mim.
       Pois me espremeram como um fruto e o homem que eu tenho às costas pesa demais.
       Eu fiz o mal, e o homem morto comigo pesa demais!
       Morramos então, pois é menos doce estar de pé que de bruços deitado,
       Mais duro viver que morrer, e sobre a cruz do que sobrecarregado.”

       Salvai-nos do Terceiro pecado que é se desesperar!
       Nada está ainda perdido se nos resta a morte a tragar!
       E já me basta deste lenho, mas resta o ferro mortuário!
       Jesus cai uma terceira vez, mas é no cume do Calvário!

DÉCIMA ESTAÇÃO

       Eis a área onde o grão de trigo celeste
é triturado.
       O Pai está nu, o véu do Tabernáculo foi arrancado.
       A mão vem sobre Deus, a Carne da Carne estranha,
       O universo, em sua fonte atingido, treme até o fundo de sua entranha!

       Nós, já que tomaram a túnica e o manto sem costura,
       Ergamos os olhos a Jesus e ousemos ver sua face pura.
       Eles não vos deixam nada, Senhor, tudo pilham,
       A revestidura que mantém a carne, como hoje tiram
       O hábito do monge e o véu da virgem consagrada.
       Tomaram tudo, não lhe resta para se esconder mais nada.
       Ele está nu como um verme, já não tem qualquer defesa,
       Entregue descoberto aos homens como uma presa.
       Como, é esse aí o vosso Jesus! Faz-me rir; cheio de pancadas e imundícia.
       Ele se ergue dos alienistas e da polícia.
       Tauri pingues obsederunt me. Libera me, Domine, de ore canis.
       Ele não é o Cristo. Ele não é o Filho do Homem. Ele não é Deus.
       Seu evangelho é mentiroso e seu Pai não está nos céus.
       É um louco! É um impostor! Que fale! Que seja calado!
       O lacaio de Anás dá-lhe um tabefe e por Renan é beijado.
       Tomaram tudo. Mas resta o sangue corrente.
       Tomaram tudo. Mas resta a chaga ardente!
       Deus está escondido. Mas resta o homem em aflição.
       Deus está escondido. Resta, aos prantos, meu irmão!

       Por vosso aviltamento, Senhor, por vossa desgraça.
       Tende piedade dos vencidos, do fraco que o forte amassa!
       Pelo horror desse derradeiro revestimento que vos é arrancado,
       Tende piedade de todo aquele que é dilacerado!
       Da criança operada três vezes a quem os médicos pedem coragem,
       E do pobre ferido a quem renovam a bandagem,
       Do esposo humilhado, do filho cuja mãe morre na tribulação,
       E deste terrível amor que é preciso arrancar do nosso coração!

DÉCIMA PRIMEIRA ESTAÇÃO

       Eis que Deus não está mais conosco. Está no chão caído.
       A malta toda tomou-lhe a goela qual um cervo ferido.
       Vós viestes, Senhor! Estais mesmo conosco, então!
       Sentaram-se sobre vós, e há um joelho sobre vosso coração.
       Esta mão que o carrasco torce, é a direita do Onipotente.
       Amarraram o cordeiro pelos pés, prendem o Onipresente.
       Marcam com giz sobre a cruz sua altura e sua envergadura.
       E quando ele sentir o gosto dos nossos cravos, nós veremos sua figura.

       Filho Eterno, que só por vossa Infinidade é limitado,
       Eis aqui então conosco, este lugar estreito por vós cobiçado!
       Eis aqui Elias sobre a morte que deita em seu colchão,
       Eis aqui o trono de Davi e a glória de Salomão,
       Eis aqui o leito de nosso amor convosco, duro e poderoso!
       Para um Deus, ficar do nosso tamanho é dificultoso!
       Puxam e o corpo quebra e grita meio deslocado
       Esticam-no qual numa prensa, ele é terrivelmente esquartejado,
       Afim de que se justifique o Profeta que disse os oráculos vossos:
       “Eles trespassaram minhas mãos e pés. Enumeraram todos os meus ossos.”

       Estais preso, Senhor, e não podeis mais fugir.
       Estais fincado à cruz nas mãos e pés sem como sair.
       Não tenho mais nada a buscar no céu com os hereges e parvos.
       Basta para mim este Deus preso entre quatro cravos.

DÉCIMA SEGUNDA ESTAÇÃO

       Ele sofria agora mesmo, verdade, mas eis que expira.
       A Grande Cruz na noite fragilmente balança com o Deus que respira.
       Tudo está aí. Só resta se fazer o Instrumento complacente
       Que da junção da dupla natureza inesgotavelmente
       Da fonte do corpo e da alma e da hipóstase, exprime e requer
       Toda a possibilidade que há nele
de sofrer.
       Está totalmente só como Adão estava no Éden sozinho,
       Ele fica por três horas só e saboreia o Vinho,
       A ignorância invencível do homem ante Deus em retirada!
       Nosso hóspede está pesaroso, sua fronte é pouco a pouco flexionada.
       Ele não vê mais sua Mãe e seu Pai o abandona.
       Ele saboreia o cálice e o lento veneno que a morte proporciona.
       Já não chega do vinho acre mesclado à água neste homicídio
       Por que Vós Vos endireitais de repente a gritar: Sitio?
       Tens sede, Senhor? Por mim quereis ser saciado?
       Sou eu que quereis ainda e o meu pecado?
       Sou eu quem falta antes que tudo seja consumado?

DÉCIMA TERCEIRA ESTAÇÃO

       Aqui a Paixão termina e a Compaixão segue em frente.
       O Cristo não está mais sobre a Cruz, Maria o tem bem rente:
       Como ela o aceitou, prometido, o recebe, consumado.
       O Cristo que sofreu aos olhos de todos no seio de sua Mãe é de novo abrigado.
       A Igreja entre seus braços cuida para sempre de seu bem-amado.
       Aquilo que é de Deus, aquilo que é da Mãe, e a nossa crueldade,
       Tudo isso sob seu manto está com ela pela eternidade.
       Ela tomou, ela vê, ela toca, ela reza, ela chora, ela admira;
       Ela é o sudário e o unguento, ela é a sepultura e a mirra,
       Ela é o padre e o altar e o vaso e o Cenáculo.
       Aqui termina a Cruz e começa o Tabernáculo.

DÉCIMA QUARTA ESTAÇÃO

       A tumba onde o Cristo que está morto após sofrer foi enfiado,
       O buraco, para que ele dê sua noite, às pressas deslacrado,
       Antes da vítima trespassada ressuscitar e subir ao Pai,
       Não é só este sepulcro novo, é minha carne que vai,
       É o homem, vossa criatura, que dum fundo mais fundo que a terra sai!
       Agora que seu coração está aberto e agora que suas mãos estão furadas,
       Já não há cruzes entre nós que a seu corpo não sejam adaptadas,
       Já não há pecado em nós a cuja chaga ele não seja fecundo!
       Vinde portanto do altar onde vos escondestes até nós, Salvador do mundo!
       Senhor, quão aberto está o ser por Vós criado e como é profundo!

*

PREMIÈRE STATION

        C’est fini. Nous avons jugé Dieu et nous l’avons condamné à mort.
        Nous ne voulons plus de Jésus-Christ avec nous, car il nous gêne.
        Nous n’avons plus d’autre roi que César! d’autre loi que le sang et l’or!
        Crucifiez-le, si vous le voulez, mais débarrasser-nous de lui! qu’on l’emmène!
       Tolle! Tolle! Tant pis! puisqu’il le faut, qu’on l’immole et qu’on nous donne Barabbas!

       Pilate siège au lieu qui est appelé Gabbatha.
        “N’as-tu rien à dire? ” dit Pilate. Et Jésus ne répond pas.
        “Je ne trouve aucun mal en cet homme”, dit Pilate, “mais bah!
        Qu’il meure, puisque vous y tenez! Je vous le donne. Ecce homo.”

       Le voici, la couronne en tête et la pourpre sur le dos.
        Une dernière fois vers nous ces yeux pleins de larmes et de sang!
        Qu’y pouvons-nous? pas moyen de le garder avec nous plus longtemps.
        Comme il était un scandale pour les Juifs, il est parmi nous un non-sens.
       La sentence d’ailleurs est rendue, rien n’y manque, en langages hébraïque, grec et latin.
        Et l’on voit la foule qui crie et le juge qui se lave les mains.

DEUXIÈME STATION

        On lui rend ses vêtements et la croix lui est apportée.
        “Salut”, dit Jésus, “ô Croix que j’ai longtemps désirée!”
        Et toi, regarde, chrétien, et frémis! Ah, quel instant solennel
        Que celui où le Christ pour le première fois accepte la Croix éternelle!
        O consommation en ce jour de l’arbre dans le Paradis!
        Regarde, pécheur, et vois à quoi ton péché a servi.
        Plus de crime sans un Dieu dessus et plus de croix sans le Christ!
        Certes le malheur de l’homme est grand, mais nous n’avons rien à dire,
        Car Dieu est maintenant dessus, qui est venu non pas expliquer, mais remplir.
        Jésus reçoit la Croix, comme nous recevons la Sainte Eucharistie:
        “Nous lui donnons du bois pour son pain”, comme il est dit par le prophète Jérémie.
        Ah, que la croix est longue, et qu’elle est énorme et difficile!
        Qu’elle est dure! qu’elle est rigide! que c’est lourd, le poids du pécheur inutile!
        Que c’est long à porter pas à pas jusqu’à ce qu’on meure dessus!
        Est-ce vous qui allez porter cela tout seul Seigneur Jésus?

        Rendez-moi patient à mon tour du bois que vous voulez que je supporte.
        Car il vous faut porter la croix avant que la croix nous porte.

TROISIÈME STATION

        En marche! victime et bourreaux à la fois, tout s’ébranle vers le Calvaire.
        Dieu qu’on tire par le cou tout à coup chancelle et tombe à terre.

        Qu’en dites-vous, Seigneur, de cette première chute?
        Et puisque maintenant vous savez, qu’en pensez-vous? cette minute
        Où l’on tombe et où le faix mal chargé vous précipite!
        Comment la trouvez-vous, cette terre que vous fîtes?
        Ah! ce n’est pas la route du bien seulement qui est raboteuse.
        Celle du mal, elle aussi, est perfide et vertgineuse!
        Il n’est pas que d’y aller tout droit, il faut s’instruire pierre à pierre,
        Et le pied y manque souvent, alors que le coeur persévère.
       Ah, Seigneur, par ces genoux sacrés, ces deux genoux qui vous ont fait faute à la fois,
        Par le haut-le-coeur soudain et la chute à l’entrée de l’horrible Voie,
        Par l’embûche qui a réussi, par la terre que vous avez apprise,
        Sauvez-nous du premier péché que l’on commet par surprise!

QUATRIÈME STATION

        O mères qui avez vu mourir le premier et l’unique enfant,
        Rappelez-vous cette nuit, la dernière, auprès du petit être gémissant,
        L’eau qu’on essaye de faire boire, la glace, le thermomètre,
        Et la mort qui vient peu à peu et qu’on ne peut plus méconnaître.
        Mettez-lui ses pauvres souliers, changer-le de linge et de brassière.
        Quelqu’un vient qui va me le prendre et le mettre dans la terre.
        Adieu, mon petit enfant! adieu, ô chair de ma chair!

        La quatrième Station est Marie qui a tout accepté.
        Voici au coin de la rue qui attend le Trésor de toute Pauvreté.
        Ses yeux non point de pleurs, sa bouche n’a point de salive.
        Elle ne dit pas un mot et regarde Jésus qui arrive.
        Elle accepte. Elle accepte encore une fois. Le cri
        Est sévèrement réprimé dans le coeur fort et strict.
        Elle ne dit pas un mot et regarde Jésus-Christ.
        La Mère regarde son Fils, l’Église son Rédempteur,
        Son âme violemment va vers lui comme le cri du soldat qui meurt!
        Elle se tient debout devant Dieu et lui offre son âme à lire.
        Il n’y a rien dans son coeur qui refuse ou qui retire,
        Pas un fibre de son coeur transpercé qui n’accepte et ne consente.
        Et comme Dieu lui-même qui est là, elle est présente.
        Elle accepte et regarde ce Fils qu’elle a conçu dans son sein.
        Elle ne dit pas un mot et regarde le Saint des Saints.

CINQUIÈME STATION

        L’instant vient où ça va plus et l’on ne peut plus avancer.
        C’est là que nous trouvons jointure et où vous permettez
        Qu’on nous emploie aussi, même de force, à votre Croix.
        Tel Simon le Cyrénéen qu’on attelle à ce morceau de bois.
        Il l’empoigne solidement et marche derrière Jésus,
        Afin que rien de la Croix ne traîne et ne soit perdu.

SIXIÈME STATION

        Tous les disciples ont fui, Pierre lui-même renie avec transport!
        Une femme au plus épais de l’insulte et au centre de la mort
        Se jette et trouve Jésus et lui prend le visage entre les mains.

        Enseignez-nous, Véronique, à braver le respect humain.
        Car celui à qui Jésus-Christ n’est pas seulement une image, mais vrai,
        Aux autres hommes aussitôt devient désagréable et suspect.
        Son plan de vie est à l’envers, ses motifs ne sont plus les leurs.
        Il y a quelque chose en lui toujours qui échappe et qui est ailleurs.
        Un homme fait qui dit son chapelet et qui va impudemment à confesse,
        Qui fait maigre le vendredi et qu’on voit parmi les femmes à la messe,
        Cela fait rire et ça choque, c’est drôle et c’est irritant aussi.
        Qu’il prenne garde à ce qu’il fait, car on a les yeux sur lui.
        Qu’il prenne garde à chacun de ses pas, car il est un signe.
        Car tout Chrétien de son Christ est l’image vraie quoique indigne.
        Et le visage qu’il montre est le reflet trivial
        De cette Face de Dieu en son coeur, abominable et triomphale!

        Laissez-nous la regarder encore un fois, Véronique,
        Sur le linge où vous l’avez recueillie, la face du Saint Viatique.
      Ce voile de lin pieux où Véronique
a caché

       La face du Vendangeur au jour de son ébriété,
       Afin qu’éternellement son image s’y attachât
       Qui est faite de son sang, de ses larmes et de nos crachats!

SEPTIÈME STATION

        Ce n’est pas la pierre sous le pied, ni le licou
        Tiré trop fort, c’est l’âme qui fait défaut tout à coup.
        O milieu de notre vie! ô chute que l’on fait spontanément!
        Quand l’aimant n’a plus de pôle et la foi plus de firmament,
        Parce que la route est longue et parce que le terme est loin,
        Parce que l’on est tout seul et que la consolation n’est point!
        Longueur du temps! dégout en secret qui s’accroît
        De l’injonction inflexible et de ce compagnon de bois!
      C’est pourquoi on étend les deux bras à la fois comme quelqu’un qui nage!
        Ce n’est plus sur le genoux qu’on tombe, c’est sur le visage.
       Le corps tombe, il est vrai, et l’âme en même temps a consenti.

       Sauvez-nous de la Seconde chute que l’on fait volontairement par ennui.

HUITIÈME STATION

        Avant qu’il ne monte une dernière fois sur la montagne,
        Jésus lève le doigt et se tourne vers le peuple qui l’accompagne,
        Quelques pauvres femmes en pleurs avec leurs enfants dans les bras.
        Et nous, ne regardons pas seulement, écoutons Jésus car il est là.
        Ce n’est pas un homme qui lève le doigt au milieu de cette pauvre enluminure,
        C’est Dieu qui pour notre salut n’a pas souffert seulement en peinture.
        Ainsi cet homme était le Dieu Tout-Puissant, il est donc vrai!
        Il est un jour où Dieu a souffert cela pour nous, en effet!
        Quel est-il donc, le danger dont nous avons été rachetés à un tel prix?
        Le salut de l’homme est-il si simple affaire que le Fils
        Pour l’accomplir est obligé de s’arracher du sein du Père.
        S’il va ainsi du Paradis, qu’est-ce donc que l’Enfer?
        Que fera-t-on du bois mort, si l’ on fait ainsi du bois vert?

NEUVIÈME STATION

        “Je suis tombé encore, et cette fois, c’est la fin.
        Je voudrais me relever qu’il n’y a pas moyen.
        Car on m’a pressé comme un fruit et l’homme que j’ai sur le dos est trop lourd.
        J’ai fait le mal, et l’homme mort avec moi est trop lourd!
        Mourons donc, car il est plus doux d’être à plat ventre que debout,
        Moins dur de vivre que de mourir, et sur la croix que dessous. “

        Sauvez-nous du Troisième péché qui est le désespoir!
        Rien n’est encore perdu tant qu’il reste la mort à boire!
        Et j’en ai fini de ce bois, mais il me reste le fer!
        Jésus tombe une troisième fois, mais c’est au sommet du Calvaire!

DIXIÈME STATION

        Voici l’aire où le grain de froment céleste est égrugé.
        Le Père est nu, le voile du Tabernacle est arraché.
        La main est portée sur Dieu, la Chair de la Chair tressaille,
        L’univers, en sa source atteint, frémit jusqu’au fond de ses entrailles!

        Nous, puisqu’ils ont pris la tunique et la robe sans couture,
        Levons les yeux et osons regarder Jésus tout pur.
        Ils ne vous ont rien laissé, Seigneur, ils ont tout pris,
        La vêture qui tient à la chair, comme aujourd’hui
        On arrache sa coulle au moine et son voile à la vierge consacrée.
        On a tout pris, il ne lui reste plus rien pour se cacher.
        Il n’a plus aucune défense, il est nu comme un ver,
        Il est livré à tous les homme
et découvert.

        Quoi, c’est là votre Jésus! Il fait rire. Il est plein de coups et d’immondices.
        Il relève des aliénistes et de la police.
        Tauri pingues obsederunt me. Libera me, Domine, de ore canis.
        Il n’est pas le Christ. Il n’est pas le Fils de l’Homme.Il n’est pas Dieu.
        Son évangile est menteur et son Père n’est pas aux cieux.
        C’est un fou! C’est un imposteur! Qu’il parle! Qu’il se taise!
        Le valet d’Anne le soufflette et Renan le baise.
        Ils ont tout pris. Mais il reste le sang écarlate.
        Ils ont tout pris. Mais il reste la plaie qui éclate!
        Dieu est caché. Mais il reste l’homme de douleur.
        Dieu est caché. Il reste mon frère qui pleure!

        Par votre humiliation, Seigneur, par votre honte.
        Ayez pitié des vaincus, du faible que le fort surmonte!
        Par l’horreur de ce dernier vêtement qu’on vous retire,
        Ayez pitié de tous ceux qu’on
déchire!

        De l’enfant opéré trois fois que les médecins encouragent,
        Et du pauvre blessé dont on renouvelle les bandages,
        De l’époux humilié, du fils près de sa mère qui meurt,
        Et de ce terrible amour qu’il faut nous arracher du coeur!

ONZIÈME STATION

        Voici que Dieu n’est plus avec nous. Il est par terre.
        La meute en tas l’a pris à la gorge comme un cerf.
        Vous êtes donc venu! Vous êtes vraiment avec nous, Seigneur!
        On s’est assis sur vous, on vous tient le genou sur le coeur.
        Cette main que le bourreau tord, c’est la droite du Tout-Puissant.
        On a lié l’Agneau par les pieds, on attache l’Omniprésent.
        On marque à la craie sur la croix sa hauteur et son envergure.
        Et quand il va goûter de nos clous, nous allons voir sa figure.

        Fils Éternel, dont la borne est votre seule Infinité,
        La voici donc avec nous, cette place étroite que vous avez convoitée!
        Voici Elie sur la mort qui se couche de son long,
        Voici le trône de David et la gloire de Salomon,
        Voici le lit de notre amour avec Vous, puissant et dur!
        Il est difficile à un Dieu de se faire à notre mesure.
        On tire et le corps à demi disloqué craque et crie,
        Il est bandé comme un pressoir, il est affreusement équarri.
        Afin que le Prophète soit justifié qui l’a prédit en ces mot:
        “Ils ont percé mes mains et mes pieds. Ils ont énuméré tous mes os. “

        Vous êtes pris, Seigneur, et ne pouvez plus échapper.
        Vous êtes cloué sur la croix par les mains et par les pieds.
        Je n’ai plus rien à chercher au ciel avec l’hérétique et fou.
        Ce Dieu est assez pour moi qui tient entre quatre clous.

DOUZIÈME STATION

        Il souffrait tout à l’heure, c’est vrai, mais maintenant il va mourir.
        La Grande Croix dans la nuit faiblement remue avec le Dieu qui respire.
        Tout y est. Il n’y a plus qu’à laisser faire l’Instrument.
        Qui du joint de la double nature inépuisablement
        De la source du corps et de l’âme et de l’hypostase, exprime et tire
        Toute la possibilité qui est en lui de souffrir.
        Il est tout seul comme Adam quand il était seul dans l’Eden,
        Il est pour trois heures seul et savoure le Vin,
        L’ignorance invincible de l’homme dans le retrait de Dieu!
        Notre hôte est appesanti et son front fléchit peu à peu.
        Il ne voit plus sa Mère et son Père l’abandonne.
        Il savoure la coupe et la mort lentement qui l’empoisonne.
        N’en avez-vous donc pas assez de ce vin aigre et mêlé d’eau,
        Pour que Vous Vous redressiez tout-à-coup et criiez: Sitio?
        Vous avez soif, Seigneur? Est-ce à moi que Vous parlez?
        Est-ce moi dont Vous avez besoin encore et de mes péchés?
        Est-ce moi qui manque avant que tout soit consommé?

TREIZIÈME STATION

        Ici la Passion prend fin et la Compassion continue.
        Le Christ n’est plus sur la Croix, il est avec Marie qui l’a reçu:
        Comme elle l’accepta, promis, elle le reçoit, consommé.
        Le Christ qui a souffert aux yeux de tous de nouveau au sein de sa Mère est caché.
        L’Église entre ses bras à jamais prend charge de son bien-aimé.
        Ce qui est de Dieu, et ce qui est de la Mère, et ce que l’homme a fait,
        Tout cela sous son manteau est avec elle à jamais.
        Elle l’a pris, elle voit, elle touche, elle prie, elle pleure, elle admire;
        Elle est le suaire et l’onguent, elle est le sépulture et la myrrhe,
        Elle est le prêtre et l’autel et le vase et le Cénacle.
        Ici finit la Croix et commence le Tabernacle.

QUATORZIÈME STATION

        Le tombeau où le Christ qui est mort ayant souffert est mis,
        Le trou à la hâte descellé pour qu’il donne sa nuit,
        Avant que le transpercé ressucite et monte au Père,
        Ce n’est pas seulement ce sépulcre neuf, c’est ma chair,
        C’est l’homme, votre créature, qui est plus profond que la terre!
        Maintenant que son coeur est ouvert et maintenant que ses mains sont percées,
        Il n’est plus de croix avec nous où son corps ne soit adapté!
        Il n’est plus de péché en nous où la plaie ne corresponde!
        Venez donc de l’autel où vous êtes caché vers nous, Sauveur du monde!
        Seigneur, que votre créature est ouverte et qu’elle est profonde!

*

Tradução: Marcelo Consentino
IlustraçãoCristo carregando a Cruz de Hieronymus Bosch (1500-35), óleo sobre tela em exposição no Museu de Belas Artes de Ghent.