Três italianos buscam um pouco de razão entre a Floresta Amazônica e a Cidade Eterna

De Todos têm razão, romance de Paolo Sorrentino. Milão, 2010 d.C.

oferecimento

 

 

 

 

A hora e a vez de Alberto Ratto

Na década de 80, o napolitano Tony Pagoda, vulgo Tony P., está no auge de sua carreira como cantor de música popular, tendo galgado o palco de algumas das casas de espetáculo mais importantes do mundo. Boêmio inveterado, ensina a quem quiser escutá-lo as técnicas mais eficazes para seduzir as mulheres. Depois de um show no Metropolitan de Nova York em que Frank Sinatra o honra com uma visita ao seu camarim, sem porém convidá-lo ao palco, Tony retorna a Nápoles para descobrir que sua vida, movida a cocaína, álcool, sexo e más companhias, está se despedaçando. Nem mesmo as mulheres parecem redimi-lo. Perdeu completamente a inocência e portanto decide que é hora de mudar. Ao fim de uma turnê no Brasil comunica inesperadamente a seus colegas de banda que está decidido a nunca mais retornar à esposa, à filha e à Itália, e passa a viver anônimo e retirado, primeiro no Rio de Janeiro, depois em Natal e finalmente na periferia de Manaus, repleta de escaravelhos monstruosos, de humidade e calor invencíveis, e de mulatas estonteantes que contrastam com a decadência de seu próprio corpo.

É toda a hostilidade desta cidade única no mundo que me impulsionou quase imediatamente a buscar-me um único, grande amigo. Creiam-me, quando os escaravelhos tiram o seu sono, a humidade tira a sua respiração, as mulheres tiram o seu desejo e lhe recordam constantemente a sua perfeita simbiose com a feiura, então você precisa de um conforto desinteressado.

O meu conforto se chamou Alberto. Um italiano de Angri, a pior província do mundo, que vive aqui há muitíssimo tempo e que, diferente de mim, quis assumir o risco de morrer e se casou com uma destas deusas locais de um metro e setenta e cinco.

Logo ele, que é mais feio que Amintori Fanfani. E possui pés que parecem uns rebocadores. Que podem deslocar apartamentos sem esforço.    

Eu o conheci assim. Estava em um bar a beber um café em uma mesinha junto com seis escaravelhos que ninguém tinha convidado quando este tipo pesadão e minúsculo, mas compacto como um bloquinho de cimento armado, me vê e urra como se estivesse em um dos meus shows: “Porco cazzo, Tony P.

Bem, devo dizer que me deu prazer ser reconhecido pela minha fama mesmo no meio da selva.

Se voltou a todos os brasileiros que estavam lá dentro e urrou como um possuído:

Porco cazzo, pretos, mas sabem quem é este aqui? Este é uma divindade. Este quando canta caem as árvores. Avete capito, stronzi?”

Aqueles o olharam como se olha um grande nada. Não podiam se lixar mais. Então ele não pagado, não consciente do vazio indiferente generalizado que se havia propagado, agarrou o braço de um rapaz e lhe ordenou com um laivo de violência que depois eu descobriria que o permeava da cabeça aos pés:

“Vá homenageá-lo, este deus palerma que canta melhor que Sinatra”. E então o brasileiro realmente se encheu e, com um movimento de uma rapidez que só pode ter aprendido com os besouros, apareceu com uma faca na mão. Apontou-a à pança pelosa e redonda de
Alberto.

Agora, depois lhes explico melhor, vocês precisam saber que Alberto não possui mais quatro dedos, três na direita e um na esquerda, porque entre seus trabalhos foi guia turístico na floresta amazônica e lá, de cara, quando não se conhece todas as características dos animais, acontece com frequência de ter de renunciar às pontas dos dedos.

Todavia, foi justamente com a mão direita que Alberto, cagando pra faca que o ameaçava, só com o auxílio da palma meteu no garoto um tapa de uma tal potência que o desventurado terminou perto dos meus pés deslizando como certos esquiadores sobre a descida ríspida que quando caem não param mais. Ultrapassou os meus pés, foi acabar além do bosque cheio de neve. O chão escorregadio com os restos de cerveja da noite anterior o esguichou contra o roda pé com o impacto idêntico ao de um avião que se estraçalha no chão. O lado positivo é que o jovem, talvez falemos do recorde mundial, eliminou em meio segundo dezesseis escaravelhos que acampavam em ótima saúde. A faca, porém, a tinha em mãos Alberto. Neste ponto preciso, se levantaram das suas mesinhas enferrujadas a beleza de quatorze brasileiros absolutamente pouco recomendáveis. Todos amigos do esquiador de Manaus. Por pouco recomendáveis entendo indivíduos habituados a manejar o facão como eu e você o garfo e a colher. E se meteram a olhar Alberto com uma insistência que podia ser tudo menos tranquilizadora. Alberto jogou no chão a faca, quase enojado. Um gesto de uma segurança despropositada, como a dizer: sou um contra quatorze, mas não enfrento vocês com uma faca!

Tudo, mas não a velhacaria em Alberto Ratto.  

Depois ergueu as mãos e, com só seis dedos à disposição disse com uma segurança que não havia ouvido em minha vida nem mesmo da boca dos chefões mais espertos:

“Agora farei um cu assim em todos vocês quatorze e quantos forem”.  

Eu, simplesmente, não podia crer nos meus olhos e nos meus ouvidos. Foi naquele momento que juntei alguns neurônios para arranjar o seguinte pensamento:

“Deste devo me fazer amigo absolutamente”.

E acendi um Rothmans leve para gozar o show que estava para destruir o bar.

Porque, claro como a merda, estava para nascer um rixa épica. A rixa das rixas.

Não deem uma de melindrosos, amigos cidadãos, não busquem forçar a natureza, não deem uma de evoluídos do caralho, não façam falar os quatro livros chatos e mal costurados que vocês leram, a rixa é objetivamente sempre uma coisa maravilhosa, é melhor que uma foda com a Carrà no ápice da sua didática sexual, quando se entregava de Trieste pra baixo. Quem diz o contrário, sobre o conceito da rixa, é um entupido de psicanálise e progresso que não irá muito longe. Nem mesmo se tiver Freud como médico de família.  

A rixa é bela. A rixa é estupefaciente. A rixa é
a rixa.

Devo registrar, não sem estupor, que, ante a ameaça de Alberto, aqueles, ainda que unidos em número de quatorze, todos titubearam um pouco, devem ter dito entre si: mas não veem que não é o caso de se meter contra este sujeito que está tão tranquilo e excitado pela perspectiva de dar um pau numa maioria aparentemente esmagadora. Isso pensaram, em uníssono, porque não lhes voltavam mais as contas aritméticas, mas era tarde demais. Quando se força as coisas a um certo ponto, voltar atrás é muito difícil a menos que não se queira produzir uma série inenarrável de caras épicas de merda e o brasileiro moderno, diga-se de passagem, é bem refratário à cara de merda. Portanto, os quatorze tinham se emaranhado num cantinho apertado fechado de propósito com barras de aço.    

Eu me disse: as coisas não podem estar como estão, este Alberto ou tem uma metranca nas calças ou em dois segundos chegam cinquenta e seis amigos seus.

Me enganei. Ele estava só, ele e os seus seis dedos.

Com a intenção, sólida e seriíssima, de mandar todos os quatorze fazerem companhia ao assassino dos escaravelhos. Não o teria parado nem mesmo uma parede, nem mesmo um pai-eterno, nem mesmo um fólio que lhe explicava que arriscava a prisão perpétua. Ninguém podia parar Alberto. Porque é um homem que não tem nada a perder. E eu tenho uma fraqueza absoluta pelos homens que não têm nada a perder. Quando os encontro é como se me injetassem uma dose de cocaína toda no corpinho. Me galvanizo. Me metem no tabuleiro do mundo através deles. Me fazem rir e chorar pela comoção.

São os meninos novos, que pra jogar mais uma meia horinha estariam prontos a vender a mãe.

Excedem-se, os homens que não tem nada a perder, até a náusea. Mas a diferença entre mim e o resto do mundo é que eu, dentro do estado de náusea, estou maravilhosamente bem. Não a vivo como um problema, a náusea. Por isso sou inadaptado ao mundo. Por isso sou só. Mas agora encontrei finalmente quem me acompanha.

Antes, melhor ainda, que está um passo adiante de mim. Este demônio do Alberto Ratto, nativo de Angri. Um lugar no tênue confim do elo perdido entre o chimpanzé e o homem, que pariu muitos seres desse tipo. Não me levem a mal os de Angri. Pra mim isso é um apreço, não
um problema.

Então, assim, encantada, como na mais bela das fábulas, foi iniciada a rixa das rixas.

Com o senso de depois, se me tivessem dito que deveria pagar dez mil dólares pra ver aquilo que viria a ver gratuitamente, sem demora, teria dito logo sim. Teria me endividado pra ver Alberto Ratto à obra.

A especificidade das pessoas no fazer as coisas é uma atitude que não acaba nunca de deslumbrar o próximo, puta merda.

Ver o maior jogador do mundo de bola que se produz, ler o maior escritor do mundo, estudar os gestos precisos e milimétricos do maior marceneiro do mundo, escutar delirantes os maiores cantores do mundo, tudo isso faz sempre com que me venham lágrimas nas pupilas. As mesmas lágrimas que tenho agora, quatro segundos depois da rixa, porque é claríssimo que aqui, diante de mim, para o meu ludibrio, se está exibindo o maior arruaceiro de todos os tempos. E se acrescentarem à invalidez física que lhe impede de agarrar colarinhos, narizes, cabelos e mãos, entenderão sozinhos o tipo de dificuldades que deve superar. Mas Alberto Ratto não tem dificuldade a superar, hoje. Está dentro do seu habitat natural. Não se pode dizer o mesmo para os quatorze brasileiros. Que teriam necessidade de um recurso fundamental: o tempo. Que ninguém nos dá de presente, jamais. Sobretudo Alberto Ratto. Eh no, sabe bem demais que não pode dar o tempo de presente a estes aqui, de outro modo sucumbe por inferioridade numérica. Teriam necessidade, os quatorze, de algum segundo a mais para organizar a defesa e contudo não o tem.

Porque vocês agora devem imaginar como uma imensa bola pesada que começa a voltejar pelo bar, quase ricocheteando, a uma velocidade inaudita, com uma violência estrondosa, e que arrasa tudo aquilo que encontra, exceto eu, que tive de me enrodilhar no chão debaixo de uma mesinha junto aos dezessete escaravelhos de sempre.

Esta bola viva é, obviamente, Alberto Ratto.

Descomposto, anárquico, sem qualquer método, Ratto atravessa e destrói ignorando a diferença elementar que se dá entre pessoas e coisas. Suprime cada elemento arremessando todo seu corpo pra cima daquilo que encontra: homens, xícaras de café, garrafas de cerveja, calendários pendurados na parede, garçons, uma caixa etérea, o proprietário, escaravelhos, um rádio portátil, uma velha caixa registradora, moedas de troca, baldes pra lavar o chão, garrafas de cachaça, cadeiras inquebráveis, vidraças, copos, lâmpadas baças, o ventilador que combate vãmente há anos contra a humidade. Tudo. Tudo. Tudo.

É um furacão um pouco mais potente que os furacões comuns, Ratto.

É uma bomba horizontal, Ratto.

Arrasa, no giro de dezoito segundos, tudo. Mas tudo mesmo, exceto eu, o seu novo amigo. É uma coisa inenarrável, se depois se pensa que Ratto tem cinquenta anos, não vinte e cinco. E produz todo este vento de morte em um silêncio inconcebível, absoluto. Nem um insulto, nem um grunhido, nem um respiro afadigado. É o seu momento de seriedade que se alterna a um caráter de outro modo jocoso, brincalhão. É o seu momento de máxima concentração em uma vida feita milhões de distrações e divagações. Não agora, não neste momento. Um rolo compressor que tem pouco tempo e muito profissionalismo, quer fazer as coisas bem. Não quer deixar nada intacto, tudo aquilo que existia neste bar não deve existir mais. É uma questão de princípio. Quer que este bar se recorde nos séculos que houve um antes de Ratto e um depois de Ratto. No fim das contas, cada um a seu modo, quer plantar a sua bandeirinha na história dos homens. Albertino de Angri escolheu este lugar como capítulo que os rapazes devem estudar na escola sobre ele.

Quando, finalmente, Alberto Ratto para, nada mais conservou uma posição ereta. Tudo, homens e coisas, está estraçalhado no chão. A tal ponto que, agora, o local parece muito maior. Ganhou em visual. Como a casa vazia que a gente compra e depois quando a preenche com móveis idiotas a reencontra pequena e decepcionante. Aqui, se dá o processo inverso. E, elevando o olhar a Alberto, leio nos seus olhos a expressão de satisfação. Fez tudo bem, ainda que vaze sangue por toda parte, porque o seu caminho onívoro foi estrelado por estilhaços de vidro que o atravessaram por toda parte, como em uma acupuntura chinesa
extrema.

Mas não liga pro sangue que escorre, que a mim ao contrário me teria alarmado até o desvanecimento. Macché! Reencontrou o seu jeitão festeiro e gaiato. Sorri. É obvio. Terminou o trabalho e agora tem muito tempo livre diante de si. O mínimo que posso fazer, neste ponto, e oferecer-me pra acompanhá-lo ao ambulatório pra estancar o sangue. Como um garotinho que pode ir à casa do amigo depois da escola sabem o que faz Alberto?

Me diz com um sorriso inesquecível, cheio de ternura:

“Que belo que me acompanhe, grazie Tony”.

Disse com uma voz flexível e adolescencial.

Não posso crer que tive uma vida tão intensa, isso me digo agora.

Sobretudo quando realiza o gesto de tomar-me sob o braço como se fossemos amigos de vida inteira e, vívido como Chapeuzinho Vermelho passeando no bosque, me guia ao longo da rua pontilhada por um rastro de gotas de sangue que ele deixa no chão com a nonchalance de uma baronesa.

É como se já tivesse esquecido, em um arco íris, todo o massacre que cometeu apenas uns poucos instantes antes. Já seguiu em frente. Porque a vida não espera, é como se comunicasse isso. Diferentemente de qualquer outro ser humano em análoga circunstância, não volta ao tema da rixa, não reevoca, não comenta.

Macché. É água passada pra ele, sequer muito memorável, enquanto eu poderia falar por anos, pra ele ao contrário é uma rotina esquecível, ligeiramente fastidiosa, talvez um pouco embaraçante, que precisava ser feita, foi feita, mas agora vamos adiante. Ao contrário, me faz perguntas sobre os meus futuros projetos musicais, esquecendo-se de perguntar que cazzo faço eu em Manaus, como se fosse absolutamente normal encontrar alguém como eu num bar da periferia da periferia do mundo.

Quando chegamos ao ambulatório as coisas parecem menos simples daquilo que esperávamos durante o passeio. Há uma multidão imane que espera o único médico à disposição. Um calvário de crianças dilaceradas, mulheres grávidas, velhos sobre à margem da despedida do vale.

Uma situação como nem mesmo no Congo durante carestias e guerras civis.

Mas Alberto me presenteia com um gran finale que, se repenso, poucas coisas me fizeram rir mais nesta vida.  

Aponta a um enfermeiro meditabundo e lhe diz com uma solenidade imperial:

“Tropecei num arbusto espinhoso e portanto tenho a máxima prioridade.”

O sujeito não encontra palavras, porque, pela segunda vez na jornada, Alberto não concedeu ao próximo o único recurso que nos consente enfrentar o mundo: o tempo.

Enquanto aquele está ainda organizando um conceito de resposta, Alberto, sempre com o subscrito sob o braço, já escancarou a porta e se apropriou de um médico. Literalmente o sequestrou com os dois dedos da mão direita, anular e polegar, e o está conduzindo sem si e sem mim à solução do seu problema: o sangue que lhe escorre de duzentos e dezessete pontos diversos do seu corpo.

O médico o fita e lhe diz alarmado:

“Façamos logo, antes que o senhor morra de hemorragia.”

Com uma calma que não tem precedentes na história do homem em posição ereta, Alberto Ratto rebate com modéstia:

“Alguém como eu não morre de hemorragia, doutor.”

Não sei porque, mas soa como uma verdade incontrovertível essa sua resposta.

Então eu e o médico nos olhamos diretamente nos olhos e, tenho certeza como da morte,  que formulamos o mesmo, idêntico pensamento: “Alguém como Alberto Ratto, simplesmente não morre.”

Esta é a ideia precisa que está tomando corpo. Do momento que o meu novo amigo possui uma vitalidade e uma alegria de viver mas tão espontânea, sem artifícios como no meu caso, e tão inevitável que esta é a única suposição inteligente que nos é concedida a mim e ao médico. O qual, de fato, começa a se acomodar e, com paciência cartuxa, se põe ali a extrair de tudo da massa corpórea dura como um tanque de Alberto. Extrai e tampona, o doutor, enquanto Alberto, o vejo bem com meus próprios olhos, entrefecha docemente as pálpebras, como se estivesse a ponto de parir uma reflexão profundíssima e ao invés, hierático como Pio IX, me intima:

“Agora, Tony, fale-me de você detalhadamente.”

Me enlouquece este homem. O amo no ato. Se não fosse já casado com a quarta mulher mais bela de Manaus, como é verdade mãe-do-céu, me casaria eu com ele, pouco me fodendo pra todas as minhas idiotas idiossincrasias para com os homossexuais. Me manda ao manicômio, mas no sentido bom porém. Não me dá tempo de entender. Não governo nada, estou à sua mercê. Toda vez que tento pensar agora dirá assim, agora fará isso, pontualmente me quebra as pernas. É uma orgia de novidade, de farra, de sarro.  

Cada trinta segundos é uma garrafa diferente de champanhe que é estourada. Encontrou um seu modo maravilhoso de estar no mundo e todos aqueles que confronta batem e voltam. Ninguém o mete em dificuldade. E depois, com quanta naturalidade. A vida não possui obstáculos para ele. Basta tomá-la pelo lado certo. Pouco importa que o lado certo dele a você pareça pontualmente um erro, um evento denso de perigos.

Nada, você é continuamente desmentido. Tinha razão ele. Obtém tudo aquilo que quer sem esforço e a coisa ainda mais assombrosa é que não quer obter sabe-se lá o que. Não é ambicioso, não aproveita das suas capacidades, se deixa viver, mas não se deixa foder por ninguém. Quero me casar com ele, digo mais uma vez depois não lhes direi mais.

Em suma, conheci assim, Alberto Ratto.  

*

È tutta l’ostilità di questa città unica al mondo che mi ha spinto da quasi subito a cercarmi un unico, grande amico. C’è da credermi, quando gli scarafaggi ti tolgono il sonno, l’umidità ti toglie il respiro, le donne ti tolgono il desiderio e ti ricordano costantemente la tua perfetta simbiosi con la bruttezza, allora hai bisogno di un conforto disinteressato.

Il mio conforto si è chiamato Alberto. Un italiano di Angri, la peggiore provincia del mondo, che vive qua da tantissimo e che, a differenza mia, si è voluto prendere il rischio di morire e si è sposato una di queste dee locali di un metro e settantacinque.

Proprio lui, che è più brutto di Amintore Fanfani. E possiede piedi che sembrano dei rimorchiatori. Che possono spostare gli appartamenti senza sforzo.

L’ho conosciuto così. Ero in un bar a bere un caffè ad un tavolino insieme a sei scarafaggi che nessuno aveva invitato quando questo tipo soprappeso e minuscolo, ma compatto come un blocchetto di cemento armato, mi vede e
urla come se stesse ad un mio
concerto: “Porco cazzo, Tony P”.

Bene, devo dire che mi ha fatto piacere essere riconosciuto per la mia fama anche in mezzo alla giungla.

Si è voltato verso tutti i brasiliani che stavano là dentro e ha urlato come un invasato:

“Porco cazzo, negri, ma lo sapete chi è questo qua? Questo è una divinità. Questo quando canta se ne cadono gli alberi. Avete capito, stronzi?”.

Quelli lo hanno guardato come si guarda il grande nulla. Non se ne potevano fregare di meno. Allora lui non pago, non consapevole del vuoto indifferente generalizzato che si era propagato, ha afferrato il braccio di un ragazzo e gli ha ordinato con un retaggio di violenza che poi avrei scoperto lo permeava da capo a piedi:

“Vallo ad omaggiare, a questo dio balordo che canta meglio di Sinatra”. E allora il brasiliano si è veramente frantumato i coglioni e, con un movimento di una rapidità che può aver imparato solo dai bacherozzi, si è ritrovato con un coltello in mano. Lo ha puntato alla pancia pelosa e rotonda di Alberto.

Ora, poi ve lo spiego meglio, dovete sapere che Alberto non possiede più quattro dita, tre nella destra e una nella sinistra, perché come lavoro ha fatto anche la guida turistica nella foresta amazzonica e lì, sulle prime, quando non conosci tutte le caratteristiche degli animali, capita sovente di dover rinunciare ai polpastrelli.

Tuttavia, è proprio con la mano destra che Alberto, fottendosene del coltello che lo minacciava, col solo ausilio del palmo ha elargito al giovanotto uno schiaffo di una tale potenza che lo sventurato mi è terminato vicino ai piedi scivolando come certi sciatori sulla discesa ripida che quando cadono non si fermano più. Mi ha oltrepassato i piedi, era finito oltre il bosco innevato. Il pavimento sdrucciolevole di avanzi di birre della notte prima lo ha schizzato contro il battiscopa con un impatto identico a quello di un aereo che crolla al suolo. Il risvolto positivo è che il giovane, forse parliamo di record del mondo, ha eliminato in mezzo secondo sedici scarafaggi che bivaccavano in ottima salute. Il coltello, invece, ce l’aveva in mano Albertino. A quel punto preciso, si sono sollevati dai loro tavolini arrugginiti la bellezza di quattordici brasiliani assolutamente poco raccomandabili. Tutti amici dello sciatore di Manaus. Per poco raccomandabili intendo individui adusi a maneggiare il machete come io e voi la forchetta e il cucchiaino. E si sono messi a fissare Alberto con un’insistenza che tutto poteva essere tranne che rassicurante. Alberto ha buttato a terra il coltello, quasi schifato. Un gesto di una sicurezza spropositata, come a dire: sono uno contro quattordici, ma mica vi affronto col
coltello, io!

Tutto, ma non la vigliaccheria in Alberto Ratto.

Poi ha sollevato le mani e, con sole sei dita a disposizione ha detto con una sicurezza che non avevo sentito in vita mia nemmeno dalla bocca dei boss più avveduti:

“Ora vi faccio un culo così a tutti e quattordici quanti ne siete”.

Io, semplicemente, non potevo credere ai miei occhi e alle mie orecchie. È stato in quel momento che ho congiunto alcuni neuroni per allestire il seguente pensiero:

“A questo me lo devo fare amico assolutamente”.

E mi sono acceso una Rothmans leggera per godermi lo show che stava per distruggere il bar.

Perché, chiaro come la merda, stava per nascere una rissa epocale. La rissa delle risse.

Non fate gli schizzinosi, amici cittadini, non cercate di forzare la natura, non fate gli evoluti del cazzo, non fate parlare i quattro libri noiosi e rilegati male che avete letto, la rissa è oggettivamente sempre una cosa meravigliosa, è meglio di una scopata con la Carrà all’apice della sua comunicativa sessuale, quando si proponeva da Trieste in giù. Chi dice il contrario, sul concetto di rissa, è un imbottito di psicoanalisi e progresso che non andrà molto lontano. Neanche se tiene Freud
come medico della
mutua.

La rissa è bella. La rissa è stupefacente. La rissa è la rissa.

Devo registrare, non senza stupore, che, alla minaccia di Alberto, quelli, sebbene uniti in numero di quattordici, hanno tutti tentennato un poco, si devono essere detti: ma vuoi vedere che non è il caso di mettersi contro a questo che se ne sta così tranquillo ed eccitato dalla prospettiva di fare a mazzate con una maggioranza apparentemente schiacciante. Questo hanno pensato, all’unisono, perché non gli tornavano più i conti aritmetici, ma era troppo tardi. Quando spingi le cose ad un certo punto, tornare indietro è molto difficile a meno che non vuoi produrti in una serie inenarrabile di epocali figure di merda e il brasiliano moderno, questo va detto, è piuttosto refrattario alla figura di merda. Dunque, i quattordici si erano impegolati in un vicoletto stretto stretto chiuso ad arte con transenne d’acciaio.

Io mi sono detto: le cose non possono stare come stanno, questo Alberto o tiene un mitra nelle mutande o tra due secondi arrivano cinquantasei amici suoi.

Mi sbagliavo. Era solo, lui e le sue sei
dita.

Con l’intenzione, salda e serissima, di mandare tutti e quattordici a fare compagnia all’assassino di scarafaggi. Non l’avrebbe fermato neanche un muro, neanche il padreterno, neanche un foglio che gli spiegava che rischiava l’ergastolo. Non lo poteva fermare nessuno ad Alberto. Perché è un uomo che non ha nulla da perdere. E io ci ho un debole assoluto per gli uomini che non hanno nulla da perdere. Quando li incontro è come se mi iniettassero un etto di cocaina tutto nel corpicino. Mi galvanizzo. Mi mettono al tavolino del mondo attraverso di loro. Mi fanno ridere e piangere per la commozione.

Sono i nuovi bambini, pur di giocare un’altra mezz’oretta sarebbero pronti a vendersi la madre.

Eccedono, gli uomini che non hanno nulla da perdere, fino alla nausea. Ma la differenza tra me e il resto del mondo è che io, dentro allo stato di nausea, ci sto una meraviglia. Non la vivo come un problema, la nausea. Per questo sono inadatto al mondo. Per questo sono solo. Ma ora ho trovato finalmente chi mi tiene il passo.

Anzi, meglio ancora, che sta un passo davanti a me. Questo demonio di Alberto Ratto, nativo di Angri. Un paese situato sull’esile confine dell’anello mancante tra lo scimpanzé e l’uomo, che ha partorito molti esseri del suo stampo. Che non se la prendano quelli di Angri. Per me questo è un pregio, mica un problema.

Poi, così, d’incanto, come nella più bella delle fiabe, è iniziata la rissa delle risse.

Col senno di poi, se mi avessero detto che dovevo pagare diecimila dollari per vedere quello che avrei visto gratuitamente, senza indugio, avrei detto subito sì. Mi sarei indebitato pur di vedere Alberto Ratto all’opera.

La specificità delle persone nel fare le cose è un’attitudine che non finisce mai di strabiliare il prossimo, pochi cazzi.

Vedere il più grande giocatore del mondo di pallone che si produce, leggere il più grande scrittore del mondo, studiare i gesti precisi e millimetrici del più grande falegname del mondo, ascoltare deliranti i più grandi cantanti del mondo, tutto questo mi fa sempre venire le lacrime nelle pupille. Le stesse lacrime che ho ora, quattro secondi dopo l’inizio della rissa, perché è chiarissimo che qua, di fronte a me, per il mio ludibrio, si sta esibendo il più grande picchiatore di tutti i tempi. E se ci aggiungete la menomazione fisica che gli impedisce la presa di baveri, nasi, capelli e mani, capite da soli l’entità delle difficoltà che deve superare. Ma Alberto Ratto non ha difficoltà da superare, oggi. Sta dentro al suo habitat naturale. Non si può dire lo stesso per i quattordici brasiliani. Che avrebbero bisogno di una risorsa fondamentale: il tempo. Che nessuno ti regala, mai. Soprattutto Alberto Ratto. Eh no, lo sa troppo bene che non può regalare il tempo a questi qui, altrimenti soccombe per inferiorità numerica. Avrebbero bisogno, i quattordici, di qualche secondo in più per organizzare
la difesa e invece non ce
l’hanno.

Perché voi ora dovete “immaginare come una grossa palla pesante che inizia a volteggiare per il bar, quasi a rimbalzare, ad una velocità inaudita, con una violenza strepitosa, e che rade al suolo tutto quello che incontra, tranne me, che mi sono dovuto raggomitolare a terra sotto un tavolino insieme ai soliti diciassette scarafaggi.

Questa palla vivente è, ovviamente, Alberto Ratto.

Scomposto, anarchico, privo di qualsiasi metodo, Ratto attraversa e distrugge, ignorando la differenza elementare che passa tra le persone e le cose. Sopprime ogni elemento scaraventando tutto il suo corpo addosso a quello che trova: uomini, tazze di caffè, bottiglie di birra, calendari appesi al muro, camerieri, una cassiera eterea, il proprietario, scarafaggi, una radio portatile, un vecchio registratore di cassa, moneta contante, secchi per lavare a terra, bottiglie di cachaça, sedie infrangibili, vetrate, bicchieri, lampadine smorte, il ventilatore che combatte vanamente da anni contro l’umidità. Tutto. Tutto. Tutto.

È un uragano un po’ più potente dei comuni uragani, Ratto.

È una bomba orizzontale, Ratto.

Rade al suolo, nel giro di diciotto secondi, tutto. Ma proprio tutto, eccetto me, il suo nuovo amico. È una cosa irraccontabile, se poi si pensa che Ratto ha cinquant’anni, mica venticinque. E produce tutto questo vento di morte in un silenzio inconcepibile, assoluto. Non un insulto, non un grugnito, non un respiro affaticato. È il suo momento di serietà che intervalla un carattere altrimenti giocoso, ridanciano. È il suo momento di massima concentrazione in una vita fatta di miliardi di distrazioni e divagazioni. Non ora, non adesso. Un rullo compressore che ha poco tempo e tanta professionalità. E che, innanzitutto, vuole fare le cose per bene. Non vuole lasciare niente intatto, tutto quello che esisteva in questo bar non deve esistere più. E una questione di principio. Vuole che questo bar ricordi nei secoli che c’è stato un prima Ratto e un dopo Ratto. In fin dei conti, ciascuno a modo suo, vuole piantare la sua bandierina nella storia degli uomini. Albertino da Angri ha scelto questo luogo come capitolo che i ragazzi devono studiare a scuola su di
lui.

Quando, finalmente, Alberto Ratto si ferma, nulla più ha conservato una posizione eretta. Tutto, uomini e cose, è sdraiato a terra. Al punto che, ora, il locale sembra molto più grande. Ne ha guadagnato in visuale. Come la casa vuota che compri e poi quando la riempi di stronzate di mobili la ritrovi piccola e deludente. Qui, avviene il processo inverso. E, sollevando lo sguardo su Alberto, gliela leggo negli occhi l’espressione di soddisfazione. Ha fatto tutto per bene, sebbene grondi sangue da tutte le parti, perché il suo cammino onnivoro è stato costellato da schegge di vetro che lo hanno trafitto dappertutto, come in un’agopuntura cinese estrema.

Ma non si cura del sangue colante che a me invece mi avrebbe allarmato fino allo svenimento. Macché! Ha ritrovato il suo caratterino allegretto e goliardico. Sorride. È ovvio. Ha terminato il lavoro e ora ha tanto tempo libero davanti a sé. Il minimo che posso fare, a questo punto, è di offrirmi di accompagnarlo all’ambulatorio per fermare il sangue. Come un ragazzino che può andare a casa dell’amico alla fine della scuola lo sapete che fa Alberto?

Mi dice con un sorriso indimenticabile, invaso di una tenerezza:

“Che bello che mi accompagni, grazie Tony”.

Ha detto con una voce flessuosa e adolescenziale.

Non ci posso credere che ho avuto una vita così intensa, questo mi dico adesso.

Soprattutto quando compie il gesto di prendermi sotto braccio come se fossimo amici da tutta la vita e, vispo come Teresella che andea pe’ l’erbetta, mi guida lungo la strada puntellata da una scia di gocce di sangue che lui lascia a terra con la nonchalance di una baronessa.

È come se avesse già dimenticato, in un baleno, tutta la strage che ha commesso appena pochi istanti prima. È già passato oltre. Perché la vita non aspetta, è come se comunicasse questo. A differenza di qualsiasi altro essere umano in analoga circostanza, non torna sull’argomento della rissa, non rievoca, non commenta.

Macché. È acqua passata per lui, nemmeno così memorabile, mentre invece io ne potrei parlare per anni, per lui al contrario è una routine dimenticabile, leggermente fastidiosa, forse un poco imbarazzante, che andava fatta, è stata fatta, ma ora andiamo avanti. Invece mi fa domande sui miei futuri progetti musicali, dimenticandosi di chiedere cosa cazzo ci faccio io a Manaus, come se fosse assolutamente normale incontrare uno come me in un bar della periferia della periferia del
mondo.

Quando arriviamo all’ambulatorio le cose appaiono meno semplici di quello che ci eravamo prospettati durante la passeggiata. C’è una folla immane che attende l’unico medico a disposizione. Un calvario di bambini straziati, donne incinte, vecchi sull’orlo del congedo dalla valle.

Una situazione che neanche in Congo durante carestie e guerre civili.

Ma Alberto mi regala un sipario che, se ci ripenso, poche cose mi hanno fatto ridere di più in questa vita.

Punta un infermiere meditabondo e gli dice con una solennità imperiale:

“Sono inciampato in un arbusto spinoso e dunque ho la massima priorità”.

Quello non trova le parole, perché, per la seconda volta nella giornata, Alberto non ha concesso al prossimo l’unica risorsa che ti consente di fronteggiare il mondo: il tempo.

Mentre quello sta ancora organizzando un concetto di risposta, Alberto, sempre sotto braccio al sottoscritto, ha già spalancato la porta e si è impadronito di un medico. Lo ha letteralmente sequestrato con le due dita della mano destra, anulare e pollice, e lo sta conducendo senza se e senza ma alla soluzione del suo problema: il sangue che gli cola da duecentodiciassette punti diversi del suo corpo.

Il medico lo fissa e gli dice allarmato:

“Facciamo presto, prima che lei muoia per emorragia”.

Con una calma che non ha precedenti nella storia dell’uomo in posizione eretta, Alberto Ratto ribatte con modestia:

“Uno come me non muore di emorragia,
dottore”.

Non so perché, ma suona come una verità incontrovertibile questa sua risposta.

Allora io e il medico ci guardiamo dritti negli occhi e, sono sicuro come la morte, che formuliamo lo stesso, identico pensiero: “Uno come Alberto Ratto, semplicemente, non
muore”.

Questa è l’idea precisa che sta prendendo corpo. Dal momento che il mio nuovo amico possiede una vitalità e una gioia di vivere ma così spontanea, senza artifici come nel mio caso, e così inevitabile che questa è l’unica supposizione intelligente che ci è concessa a me e al medico. Il quale, infatti, inizia a prendersela comoda e, con pazienza certosina, si mette lì ad estrarre di tutto dalla massa corporea dura come un carro armato di Alberto. Estrae e tampona, il dottore, mentre Alberto, lo vedo proprio coi miei stessi occhi, socchiude dolcemente le palpebre, come se fosse in procinto di partorire una riflessione profondissima e invece, ieratico come Pio IX, mi intima:

“Ora, Tony, parlami di te dettagliatamente”.

Mi fa impazzire quest’uomo. Lo amo all’istante. Se non fosse già sposato con la quarta donna più bella di Manaus, quanto è vero la madonna, me lo sposerei io, fottendomene di tutte le mie idiote idiosincrasie verso gli omosessuali. Mi manda proprio al manicomio, ma nel senso buono però. Non mi ci fa raccapezzare. Non governo nulla, sono in balia sua. Ogni volta che provo a pensare adesso dirà così, adesso farà cosà, puntualmente mi spiazza. È un’orgia di novità, di frizzi, di
lazzi.

Ogni trenta secondi è una bottiglia diversa di champagne che viene stappata. Ha trovato un suo modo meraviglioso di stare al mondo e tutti quelli in cui incappa gli rimbalzano contro. Nessuno lo mette in difficoltà. E con quale naturalezza poi. La vita non possiede ostacoli per lui. Basta prenderla per il verso giusto. Fa niente che il suo verso giusto a te appare puntualmente un errore, un evento denso di
pericoli.

Niente, vieni continuamente smentito. Aveva ragione lui. Ottiene tutto quello che vuole senza sforzo e la cosa ancor più sbalorditiva è che non vuole ottenere chissà cosa. Non è ambizioso, non approfitta delle sue capacità, si lascia vivere, ma non si fa fottere da nessuno. Me lo voglio sposare, ve lo dico ancora una volta poi non ve lo dirò
più.

Insomma, lo conobbi così, Alberto Ratto.

*

A morte e a morte de Gegè Raja

Já há dezoito anos no Brasil, num fim de ano que esperava passar na companhia habitual dos escaravelhos, Tony é surpreendido por um megamilionário italiano que lhe oferece uma cifra inimaginável para embarcar num jato privado e entreter sua família na Itália. Após reencontrar seus amigos da banda e tocarem juntos na festa de réveillon, é conduzido a Roma onde é recebido por Tonino Paziente, um homossexual histriônico e mundano, que alvoroçado para introduzi-lo às altas rodas o arrasta no mesmo dia para uma noitada na casa de um velho escritor, Gegè Raja, viúvo há anos de uma certa Carla, hoje casado com uma polonesa recém chegada.  

Gegè Raja, oitenta e três anos, transplantado a Roma desde aquele tempo em que as gaivotas ainda estavam só no mar, que, enquanto napolitano e laureado, pontifica melhor do que qualquer outro. A caduquice senil não joga a sua patada intuitiva pra escanteio.  

Isso me satura de emoção, me restitui ao aroma da primavera como uma cascata.

Se amava a cascata da primavera. Se amava a cascata do primeiro banho de mar.

Depois se amou a cascata de cocaína nos nossos narizes. E só ela. O resto se entulhou na lata fétida de lixo. Que você abre com a pontinha dos dedos pra não se emporcalhar e prende a respiração pra segurar os miasmas, que contudo contêm, inalteradas e puras, aquelas sensações que se perderam em nome da perene anestesia
local.

Ma ecco Gegè, um descaroçador de conceitos e emoções.

Que, quase quase, é como se dissesse: bem-vindos ao novo milênio, amigos e inimigos.

Agora esta merda sobrou pra vocês, já que eu estou limítrofe à despedida.  

Eis, Gegè.

Fluvial:

“Roma, e portanto a Itália, se reduziu a um neologismo: figo, legal. Tudo é legal ou não é legal. Uma anorexia da palavra. Uma constipação da sensação:

Alguém diz ‘mas isso é linguajar de adolescente’. Quem dera! Porque seria passageiro como passageira é a adolescência. Mas acaso não ouvimos o político, o professor, a doutora, o estudante, o comerciante, o desocupado? Em suma, o usam todos. Com tanta frequência e espontaneidade que a mim às vezes, creiam-me, me vem a enxaqueca em doses cavalares. É legal. Não é legal. Eu não aguento mais. Mas por que não me disseram antes que ia acabar assim. Eu e os meus inimigos escritores arrebentamos o crânio por quarenta anos e uns trocados na busca da palavra precisa e o que deixamos em herança? Uma única palavra: legal.

Que, de resto, ironia da sorte, jamais pronunciamos.

Esse é o modo de vocês nos renegarem? É esse o seu protesto contra uma geração atravancada, resistente e guerrilheira? Dizer legal a cada passo do caminho?

Mas se é assim deveriam recuperar e implorar a camisa de força. Peçam a um médico uma camisa de força pra meter na boca, porém. Coisa pra psiquiatra.

Descobriram um novo planeta perto de Saturno? Legal!

Descobriram um novo negócio de lentes de contato coloridas? Legal!

Meu filho tem seis celulares. Legal, diz o outro, enquanto se pergunta que porra ele faz com seis faz celulares. Enquanto a pergunta certa que deveria se fazer é por que respondeu legal.

Dizem, é uma interjeição. Mas não houve um tempo, talvez, em que o mundo se esforçou pra cunhar continuamente novas interjeições e, portanto, nos fazer rir? Mas o que vocês têm contra a sadia possibilidade de rir? Mas não entendem que cada vez que alguém diz legal se perde a oportunidade de dar uma bela risada? Certo, a risada implica o esforço de uma busca. Mínima, mas sempre uma busca, coadjuvada por um talento. Aqui ninguém quer mais saber nada do talento e do mínimo esforço.

Que depois são uma hendíadis abraçada. Esforço e talento se tornaram palavrões.

Por essa razão, todos fingem que riem.

Faço essa retirada de retaguarda não porque quero denunciar a pobreza cultural. Mesmo que exista e seja indubitável. Faço esta retirada porque queria continuar a dar umas duas risadas. Até porque, a risada, diga-se, é a forma suprema de cultura. Por que não pede explicações. O resto é rebotalho pra especulações dos ratos de biblioteca. O resto é sucedâneo. Mas agora que ninguém, sabe-se lá por qual misterioso motivo, escorrega mais nas cascas de banana, então é com a linguagem que me devem fazer rir. Mas eles nada.

Surdos. E se repetem. Obnubilados pela indolência linguística. A depressão linguística.

Eis o que reina. O sujeito deveria ir a análise e dizer: doutor, tenho uma depressão. Linguística porém. E ele responde: legal.

Ah bom, então precisa trocar de analista”.

Espaçoso Gegè, fez a gente rir um monte, porque todos os presentes tinham uma única, obsessionante preocupação ante o seu arrazoado: não deixar escapar da boca a palavra incriminada.

Eu não. Porque eu não digo legal e porque sou um adepto da busca pela palavra que surpreende. Na verdade eu ficava quieto porque me atracava com o significado desconhecido da palavra “hendíadis.”

Uma tal Marinella, com óculos de amaranto grandes como uma portaria, quis meter a sua
colher.

“Não escorregamos mais nas bananas porque ninguém mais as joga no chão, Gegè. Nem tudo é negativo. O senso cívico fez progressos.”

“O que é o senso cívico, Marinè? É pensamento terceirizado. É isso. A respeito dos outros, mas terceirizado. Nesse sentido eu não o vejo tão desenvolvido, esse tal senso cívico, Marinè. O achatamento do pensamento autônomo sobre o limiar do capacho do nosso proprietário máximo nos aleijou um pouco, Marinè. O homem em questão tornou precário o país, fazendo-nos obliterar os últimos restos de dignidade. E cada passo rumo à precariedade é um reforço da escravidão mental e material se você não tem contrapesos de generosidade democrática. E você acha que ele tem os contrapesos interiores de uma generosidade democrática? A desgraça inestimável é que em política ultimamente se jogam sempre os maiores egocêntricos da humanidade. Que conseguem difundir e impor o seu estilo degradado e fedorento, a sua frustração mal disfarçada, a sua insegurança intestinal, a golpes de aparições televisivas e decretos lei de urgência que não têm nada de urgente. Isso não me contradigam, por gentileza. Você acha que, em profundidade, alguém com a cabeça no lugar, se mete em política? Faça-me o favor. É como dizer: hoje sou feliz e então, um segundo depois, me jogo do sexto andar.”

“Não contradiremos” enxertou Paziente com uma melíflua rapidez sensacionalística.

Gegè não o ouviu porque já se abandonou ao seu pensamento sucessivo, que desfia com uma voz pastosa de gagá. Um Totó pacato, sem sarro e sem farra.

Entupido de calmantes e na barranceira da morte há tanto tempo. E segue em frente, como um salmão que sobe a corrente da idade.

“Mas se a palavra diz legal, figo, a mente diz figa, buceta. Aquela masculina entendo. Por vezes também aquela feminina, bem-entendido. Vocês ouviram que ultimamente uma das intervenções de cirurgia estética mais solicitadas pelas mulheres com alguma idade é a reconstrução interna vaginal? Atenção, não a reconstrução da virgindade, aquela não importa mais a ninguém, mas a reconstrução elasticizada dos tecidos que amolecem. Uma coisa complexa, custosa e dolorosa. E mesmo assim nada as segura, a estas amazonas da estética decadente. Turronas e resolutas como bueiros. Como vocês veem, mesmo o feminino oscila sobre o conceito da figa, da buceta. Oscila, mas não se afasta. Assemelham-se a potes de Pomarola vencida, mas possuem genitais luzidios dignos de estimados pintores morbosos. A mim me causa impressão. Mas eu fui ultrapassado por mim mesmo, imaginem pela humanidade. E todos aí atormentando-se por estas quatro letras que lhes tiram o fôlego: figa, figa, figa, buceta, buceta, buceta.    

Não dormem de noite, o apetite se vai, se bombardeiam de porcarias por todas as partes pra ter a assim chamada ereção (que palavra horrível, ereção!) pra introduzir, introduzir, introduzir.

Esse é o objetivo, o escopo, a razão de vida. Que há em torno? Nada. Não sentem um odor de morte? A morte não é o desaparecimento do desejo, esse na minha idade se faz irreversível e fisiológico. Que porra eu posso fazer? Macché! A morte está na simplificação do desejo. Assim como a outra morte está na simplificação da linguagem. Até porque, o desejo sempre esteve perenemente suspenso numa articulação espetacular e colorida da linguagem. Vão de braços dados, como as comadres. Mas nem sempre foi assim. Sessenta e seis anos atrás, minha mulher se voltou e me olhou como não me olhara jamais. Me olhou como a vereda que se ilumina de encanto, me olhou como o menino divertido pelos espirros de água. Assim me olhou e foi a revolução de mim mesmo. Não estou dizendo que me apaixonei. Estou dizendo que minha alma se excitou para uma torção do pescoço. Verdade Carla? Lembra, Carla? Éramos meninos, Carla. Toda a incredulidade do mundo caía na nossa cabeça sem pudor. E aqueles rubores na descoberta da ternura, Carla, mas não valiam mais que a vida mesma? Eu penso que sim, Carla. Concorde comigo mais uma vez, Carla. Você o fez toda a vida, não me negue agora. Agora que transcorro os dias a me despedir do mundo porque cada dia se preanuncia como o último. Concorde comigo mais uma vez. Suamos nossas axilas com lágrimas de comovida participação enquanto nos beijávamos em Capri. Dentro dos labirintos do verão perene. E um instante depois
projetávamos a grandeza da
família.

Projetávamos a responsabilidade, como antídoto a todos os males externos que também houveram. A responsabilidade, o único remédio científico contra o horror vacui. A participação emotiva em todas as nuances um do outro. Uma morbosidade indispensável, Carla. Sentir as próprias costas acariciadas pela mão livre, Carla.

Mas onde estávamos? Suspensos e flutuantes no instante. Se ao menos um deus pudesse ter cristalizado o nosso sentir. Fazer-nos estalactites humanas por todo o tempo. Não teríamos transcorrido os sucessivos sessenta anos a agarrar desesperadamente o instante partido e que não retornou nunca mais, porque corrompido pelo nosso saber, pelo nosso ter provado, Carla. Vagamos em dupla, como os mendigos da esquina da rua, em busca não do Sangue de Boi, mas do instante e dos instantes amáveis. Mas como foi belo, Carla, o tempo em que a ingenuidade era um recurso e a ignorância um concentrado de saberes.

E as flores do verão que oprimiam os nossos corações, mesmo isso nos dizíamos, adensados numa retórica possível, digna de D’Annunzio, porque exclusiva e compartilhada dentro dos nossos olhos tristes e felizes, a única retórica possível, Carla. Viver juntos, Carla, como nós escolhemos, hierofânicos, obsidionais, inefáveis, significava também captar o senso do ridículo de nós dois, sozinhos e juntos, e admirar, com força e perseverança extraordinárias, aquele senso do ridículo que escapava das saias e das calças, como a víbora que vimos em Maratea sob horríveis fogos de artifício. Extenuados pelas nossas próprias, infinitas palavras, flutuados nos regurgitos rumorosos do tédio e dos tédios recíprocos, e contudo estaticamente habituados àquela ideia de unicidade, de insubstituibilidade que não nos fez únicos, uma vez que ninguém é único, mas insubstituíveis sim.

Ecco, isto que fomos, insubstituíveis.          

O amor é a insubstituibilidade.

Mas agora essas latrinas desumanas esperam impacientes o arreganhamento de coxas, assim finalmente, como num ritual liberatório, se acasalam visão elementar e pensamento elementar: buceta e buceta, buceta contra buceta. A buceta mental e a real, ao vivo. Um pragmatismo sem um tostão de sentimento. Giuseppina, a minha primeira namorada, disse sob um plátano perfumado: ‘Agora nós’. Não disse mais nada, e foi uma outra revolução. Se pensa no sexo na falta de outra coisa. Mas juro pra vocês, quando Giuseppina sussurrou agora nós, o sexo se tornou um milagre sucessivo. Isso deveria ser o sexo, um milagre, um prodígio. E como todos os milagres, gozamos por estupor, mas não temos o desejo consciente do seu advento.      

Quem deseja os milagres? Só os possuídos, os obcecados, os deprimidos, os desmiolados.

Precisamos nos reapropriar de uma relação religiosa, litúrgica com o sexo. Eu disse religiosa, não carola, que é uma outra coisa. Considerá-lo milagre. Então, só então se entenderá o que é o sexo. O sexo é uma catapulta. E as catapultas não se encontram mais. Foram extintas, como os telefones de discar. Como os lampejos do poeta diletante. Não há limite à feiura. Então se faz uma outra coisa, que por convenção essa gente chama sexo, mas não é. Não sei se fui claro. E vejam bem que não estou pensando como velho nostálgico. Estou pensando como quem pensa e basta. Ou será que toda vez que se exprime um conceito precisamos empobrecê-lo através do filtro da biografia pessoal e das fraquezas pessoais? Isso é insano em quem o faz e denota uma indolência em quem elabora assim o juízo sobre os outros. Mas sei que vocês o farão. Sairão daqui, se encontrarão sob o meu portão. Falarão baixinho porque têm medo que eu, enquanto fecho as janelas, possa ouvir. E comentarão: Gegè virou um velho.

Não sabe o que diz e de todo modo o que diz já disse na semana passada. A arteriosclerose… acrescentará suspirante algum outro. E isso só uns dois dedos de prosa antes de dizerem ‘boa noite, venha jantar comigo na quinta, comprei atum fresco.’ O fazem e o farão, mas não terão resolvido nada, porque a banalidade e a malevolência lhes dão sono até quando o sono quiser lhes fazer uma cortesia.

Depois sabem o que acontecerá? Um dia o sono, cavalheiro como pouquíssimos, dará passagem ao senso de culpa. E lhe dirá: ‘senso, vá você esta noite, faça-os entender toda a insignificância do mundo que lhes pertence, eu vou ao Rosati preparar um vermute.’

Então acreditarão que se tornaram insones, é típico do ignorante, do pobre de espírito e do anti-irônico, confundir o problema com o problema. Mas não é a insônia, é que estão fazendo vocês prestarem contas por ter dito numa noite de verão, acesos mas não bêbados, sob um portão: ‘Gegè virou um velho.’ Os homens não são capazes de se vingar, a este limite suprem egregiamente os destinos dos homens. Implacáveis. Sim, é verdade, Gegè virou um velho, daqui a pouco morrerá, mas possui ainda a força, extenuada e desesperada, de urrar em uma noite de verão inconveniente, contra um copo vazio de vinho branco, concorde comigo mais uma vez, Carla, você, concorde mais uma vez.”

Ninguém concordou. A brisa deixara os corpos entorpecidos. Estava tarde. Um silêncio opaco acompanhou os corações ressequidos, e Gegè já com o olhar distante.

Havia deslizado, sem solução de continuidade, da socialização ao monólogo solipsístico. Num instante, éramos um estorvo à sua morte. Como certos móveis que, depois da mudança, você não tem saco de empurrar. Os seus olhos aquosos e lacrimosos, como os de todos os velhos, miravam a sórdida litania das gaivotas esvoaçantes sobre o altar da pátria. Tudo tão parado, que dava pra ouvir os arrotos contidos de vinho branco. Um mutismo de museu e razoável deslizou sob os xales das senhoras, ali, no terraço que hospedou discussões e noitadas, novidades e ritos obsoletos. Um dos terraços mais belos do universo. Que olha os tetos, estes eternos superintendentes da comédia humana.

É preciso saber dizer as coisas, pensou-se coletivamente. É preciso saber dizê-las, seja para dar medo, seja para presentear a emoção. Isto aos meus olhos havia presenteado Gegè: o medo e a emoção, sem distinções. Superpostos como papel carbono.    

Mas o problema dos outros era sempre o mesmo, era a sua vaidade ferida. Não eram eles que sabiam dizer as coisas, mas outro, Gegè, no detalhe, às vezes com termos desconhecidos e inatingíveis. Isso inibe. Quando você pensa que deve andar com o dicionário debaixo do braço fica nervoso. Em algum lugar, não sabe bem onde, estão atentando contra a sua dignidade. Isso se tornava insuportável e Gegè o sabia bem demais, por isso prognosticava antecipadamente a alcovitice boçal e ríspida sobre ele. Pode-se cometer qualquer delito contra um homem, ele o perdoará, mas não toque na sua vaidade. Então se torna com uma fera vingativa e incontrolável.

Encarniçado como um chacal, reerguerá a cabeça só quando restar de você uma sombra de osso sobre o tapete oriental da sala.

Emma Rapisarda olhou os sapatos de
soslaio.

Quatro mil euros. Sórdida aparição mundana, Emma, que esfria qualquer emotividade dentro de um consumismo selvagem, uma esquizofrenia materialista. Não acredita nos homens. Uma outra forma de mobília, os homens. Acredita, sim, nos sapatos e nos princípios que inspiram a maçonaria.

Mas as suas palavras, enfim. Aquelas palavras de Gegè. Uma outra despedida mole da vida. E, ao mesmo tempo, um apego memorável a uma existência privada de qualquer perspectiva.

Me comovi como quando vi chorar meu pai na direção do automóvel, de repente.

Tinha advertido todo peso do tráfico congestionado e da ausência de sentido da existência. E
não me acontecia há muito tempo me
comover daquele modo.

Que dizer depois? Como é brusco retornar à trivialidade da quotidianeidade depois de ter assistido ao teatro de Gegè, ao cinema de Gegè. É por isso que nunca vou ao cinema. Quando o espetáculo termina, fora tem a caducidade da normalidade. E essa intensificação brutal, violenta, me faz sofrer como um pobre homem entre pobres homens.

Faz com que eu me sinta fora da vida à qual eu queria pertencer para sempre. Aquela do filme.

Fora, é tudo um estupro.

*

Gegè Raja, ottantatré anni, trapiantato a Roma da quel tempo in cui i gabbiani stavano ancora solo a mare, che, in quanto napoletano e laureato, pontifica meglio degli altri. Il rincoglionimento senile non gli scalfisce la zampata intuitiva in calcio d’angolo.

Questo m’infittisce di emozione, mi restituisce all’odore della primavera a cascata.

Si amava la cascata della primavera. Si amava la cascata del primo bagno a mare.

Poi si è amata la cascata di cocaina nelle nostre narici. E solo quello. Il resto si è arenato nel cassonetto fetido dell’immondizia. Che apri con le punte del polpastrello per non insozzarti e trattieni il respiro per non trafugare i miasmi, che invece contengono, inalterate e sorgive, quelle sensazioni che si sono perdute in nome della perenne anestesia locale.

Ma ecco Gegè, uno snocciolatore di concetti e di emozioni.

Che, gira gira, è come se dicesse: benvenuti nel nuovo millennio, amici e nemici.

Ora saranno cazzi vostri, dal momento che io sono limitrofo al congedo.

Eccolo, Gegè.

Fluviale:

“Roma, e dunque l’Italia, si è ridotta ad un neologismo: figo. Tutto è figo o non è figo. Un’anoressia della parola. Una stitichezza della sensazione.

Uno dice ‘ma quella è parlata dell’adolescente’. Ma magari! Perché sarebbe passeggera come passeggera è l’adolescenza. Invece, non lo senti il politico, il professore, la dottoressa, lo studente, il commerciante, il disoccupato? Insomma tutti, lo usano tutti. Così spesso e volentieri che a me alle volte, mi dovete credere, mi viene l’emicrania a grappolo. È figo. Non è figo. Io non ce la faccio più. Ma perché non me lo avete detto prima che andava a finire così. Io e i miei nemici scrittori ci siamo spaccati il cranio per quarant’anni e poche lire sulla ricerca della parola precisa e cosa abbiamo lasciato in eredità? Una parola
sola: figo.

Che, tra l’altro, ironia della sorte, non abbiamo mai pronunciato.

Questo è il vostro modo di rinnegarci? È questa la vostra protesta contro una generazione ingombrante, resistente e guerrigliera? Dire figo ad ogni piè sospinto?

Ma allora vi dovete ricoverare ed implorare la camicia di forza. Chiedete al dottore una camicia di forza da apporre sulla bocca, però. Basaglia
capirà.

Hanno scoperto un nuovo pianeta vicino Saturno? Figo!

Hanno aperto un nuovo negozio di lenti a contatto colorate? Figo!

Mio figlio tiene sei cellulari. Figo, dice quell’altro, mentre si domanda che cazzo ci fa con sei cellulari. Mentre la domanda giusta che dovrebbe porsi è perché ha risposto figo.

Dice, è un intercalare. Ma non c’è stato un tempo, forse, in cui il mondo si è sforzato di coniare continuamente nuovi intercalari e, dunque, farci ridere? Ma che cosa ci avete voi contro la sana possibilità di ridere? Ma non lo capite che ogni volta che qualcuno dice figo si perde l’opportunità di farsi una bella risata? Certo, la risata implica lo sforzo di una ricerca. Minima, ma pur sempre una ricerca, coadiuvata da un talento. Qui nessuno ne vuole più sapere niente del talento e del minimo
sforzo.

Che poi sono un’endiadi abbracciata. Sforzo e talento sono diventati parolacce.

Per questa ragione, ridono tutti per finta.

Faccio ‘sta tirata di retroguardia mica perché voglio denunciare la pochezza culturale. Anche se c’è ed è indubbia. Faccio ‘sta tirata perché vorrei continuare a farmi due risate. Che poi, la risata, diciamolo, è la forma suprema di cultura. Perché non chiede spiegazioni. Il resto è cascame per speculazioni di topi da biblioteca. Il resto è succedaneo. Ma ora che nessuno, chissà per quale misterioso motivo, scivola più sulle banane, allora è col linguaggio che mi dovete far ridere. Ma quelli
niente.

Sordi. E ripetitivi. Obnubilati dall’indolenza linguistica. La depressione linguistica.

Ecco quello che regna. Uno dovrebbe andare in analisi e dire: dottore, ci ho la depressione. Linguistica però. E quello ti risponde: figo.

Vabbuò, allora bisogna cambiare analista”.

Spassoso Gegè, ci ha fatto ridere di misura, perché tutti gli astanti avevano un’unica, ossessionante preoccupazione di fronte al suo ragionamento: non lasciarsi scappare dalla bocca la parola incriminata.

Io no. Perché io non dico figo e perché sono un sostenitore della ricerca della parola che stupisce. Piuttosto tacevo perché mi arrovellavo sul significato sconosciuto della parola “endiadi”.

Una tizia di nome Marinella, con degli occhiali amaranto grandi quanto una portineria, ha voluto dire la sua.

“Non scivoliamo più sulle banane perché nessuno le butta più a terra, Gegè. Non tutto è negativo. Il senso civico ha fatto progressi.”

“Che cos’è il senso civico, Marinè? È pensare in proprio. Quest’è. Nel rispetto degli altri, ma in proprio. In questo senso io non lo vedo così sviluppato, ‘sto senso civico, Marinè. L’appiattimento del pensiero autonomo sulle soglie dello zerbino di casa del nostro proprietario massimo ci ha un poco azzoppati, Marinè. L’uomo in questione ha reso precario il paese, facendoci obliterare gli ultimi scampoli di dignità. E ogni passo verso la precarietà è un rafforzamento della schiavitù mentale e materiale se non hai dei contrappesi di generosità democratica. E ti pare che quello ci ha i contrappesi interiori di una generosità democratica? Il guaio inestimabile è che in politica ultimamente si buttano sempre i più grossi egocentrici dell’umanità. Che riescono a diffondere e imporre il loro stile malridotto e puzzolente, la loro frustrazione malcelata, la loro insicurezza intestinale, a colpi di apparizioni televisive e decreti legge d’urgenza che non hanno nulla d’urgente. Questo non me lo contraddite, cortesemente. Ti pare che, in profondità, se uno sa il fatto suo, si butta in politica? Ma per favore. È come dire: oggi sono felice e poi, un attimo dopo, mi butto dal sesto piano.”

“Non ti contraddiciamo” ha innestato Paziente con una melliflua rapidità sensazionalistica.

Gegè non lo ha sentito perché si è già adagiato sul pensiero successivo, che sciorina con una pastosa voce da gagà. Un Totò pacato, senza frizzi e senza lazzi.

Imbottito di calmanti e sul burrone della morte già da tanto. E va avanti, come un salmone che risale la corrente dell’età.

“Ma se la parola dice figo, la mente dice figa. Quella maschile intendo. A volte pure quella femminile, beninteso. Avete sentito che ultimamente uno degli interventi di chirurgia estetica più richiesti dalle donne un pochino àgé è la ricostruzione interna vaginale? Attenzione, non la ricostruzione della verginità, quella non importa più a nessuno, ma la ricostruzione elasticizzata dei tessuti che si ammollano. Una cosa complessa, costosa e dolorosa. Eppure nulla le ferma, a queste amazzoni dell’estetica decadente. Testarde e risolute come tombini. Come vedete, anche il femminile oscilla sul concetto della figa. Oscilla, ma non si allontana. Assomigliano a barattoli di pummaròla scaduta,
ma possiedono genitali luccicanti degni di stimati pittori morbosi. A me mi fa impressione.
Ma io sono sorpassato da me
stesso, figuriamoci dall’umanità.
E tutti lì a tormentarsi su
queste quattro lettere che
toglie loro il respiro:
figa, figa, figa, figa, figa.

Non dormono la notte, l’appetito se ne va, si bombardano di schifezze da tutte le parti per avere la cosiddetta erezione (che brutta parola, erezione!) per introdurre, introdurre, introdurre.

Questo l’obiettivo, lo scopo, la ragione di vita. Cosa c’è attorno? Niente. Non sentite odore di morte? La morte non è la scomparsa del desiderio, quella alla mia età si fa irreversibile e fisiologica. Che cazzo ci vuoi fare? Macché! La morte sta nella semplificazione del desiderio. Così come l’altra morte sta nella semplificazione del linguaggio. D’altronde, il desiderio è stato sempre perennemente appeso ad un’articolazione spettacolare e variopinta del linguaggio. Vanno a braccetto, come le commarelle. Ma non è stato sempre così. Sessantasei anni fa, mia moglie si è voltata e mi ha guardato come non mi aveva mai guardato. Mi ha guardato come il sentiero che s’illumina d’incanto, mi ha guardato come il bambino divertito dagli schizzi d’acqua. Così mi ha guardato ed è stata la rivoluzione di me stesso. Non sto dicendo che mi sono innamorato. Sto dicendo che mi sono eccitato l’anima per una torsione del collo. Vero Carla? Te lo ricordi, Carla? Eravamo ragazzi, Carla. Tutta l’incredulità del mondo ci cadeva addosso senza pudore. E quelle vampate nella scoperta della tenerezza, Carla, ma non valevano più della vita stessa? Io penso di sì, Carla. Annuiscimi ancora una volta, Carla. Lo hai fatto tutta la vita, non me lo negare adesso. Adesso che trascorro le giornate a salutare il mondo perché ogni giornata si preannuncia come l’ultima. Annuiscimi ancora. Abbiamo sudato le nostre ascelle con lacrime di commossa partecipazione mentre ci baciavamo a Capri. Dentro i labirinti dell’estate perenne. E un attimo dopo progettavamo la grandezza della famiglia.

Progettavamo la responsabilità, come antidoto a tutti i mali esterni che pure ci sono stati. La responsabilità, l’unico rimedio scientifico contro l’horror vacui. La partecipazione emotiva a tutte le sfumature uno dell’altro. Una morbosità indispensabile, Carla. Sentire le proprie spalle accarezzate dalla mano libera, Carla.

Ma dove stavamo? Sospesi e galleggianti nell’istante. Se solo un dio avesse potuto cristallizzare il nostro sentire. Farci stalattiti umane per tutto il tempo. Non avremmo trascorso i successivi sessantanni ad acchiappare disperatamente l’istante andato e che non è tornato mai più, perché corrotto dal nostro sapere, dal nostro aver provato, Carla. Abbiamo vagato in coppia, come i barboni all’angolo della strada, alla ricerca non del Tavernello, ma dell’istante e degli istanti amabili. Ma come è stato bello, Carla, il tempo in cui l’ingenuità era una risorsa e l’ignoranza un concentrato di saperi.

E i fiori dell’estate che opprimevano i nostri cuori, anche questo ci dicevamo, addensati dentro una retorica possibile e dannunziana, perché esclusiva e condivisa dentro i nostri occhi tristi e felici, l’unica retorica possibile, Carla. Vivere insieme, Carla, come noi abbiamo scelto, ierofanici, ossidionali, ineffabili, ha voluto significare anche cogliere il senso del ridicolo di tutti e due, da soli e insieme, e ammirare, con forza e perseveranza straordinarie, quel senso del ridicolo che scappa via dalle gonne e dai pantaloni, come la vipera che vedemmo a Maratea sotto brutti fuochi d’artificio. Estenuati dalle nostre stesse, infinite parole, fluttuati nei rigurgiti rumorosi della noia e delle noie reciproche, eppure estaticamente assuefatti a quell’idea di unicità, di insostituibilità che non ci ha reso unici,
dal momento che nessuno è unico, ma
insostituibili
sì.

Ecco, questo siamo stati, insostituibili.

L’amore è l’insostituibilità.

Adesso, invece, queste latrine disumane attendono impazienti lo spalancamento di cosce, così finalmente, come in un rituale liberatorio, si accoppiano visione elementare e pensiero elementare: figa e figa, figa contro figa. La figa mentale e quella reale, in diretta. Un pragmatismo da squattrinati del sentimento. Giuseppina, la mia prima fidanzata, disse sotto un platano profumato: ‘Adesso noi’. Non disse nient’altro, e fu un’altra rivoluzione. Si pensa al sesso in mancanza d’altro. Ma ve lo giuro, quando Giuseppina sussurrò adesso noi, il sesso diventò un miracolo successivo. Questo dovrebbe essere il sesso, un miracolo, un prodigio. E come tutti i miracoli, ne godi per lo stupore, ma non hai il desiderio cosciente del loro
avvento.

Chi desidera i miracoli? Solo gli invasati, gli ossessionati, i depressi, gli smidollati.

Bisogna riappropriarsi di un rapporto religioso, liturgico col sesso. Ho detto religioso, non bigotto, che è un’altra cosa. Considerarlo miracolo. Allora, solo allora si capirà cosa è il sesso. Il sesso è una catapulta. E le catapulte non si trovano più. Si sono estinte, come i telefoni a disco. Come le lucciole del poeta dilettante. Non c’è limite alla bruttezza. Allora si fa un’altra cosa, che per convenzione quelli là chiamano sesso, ma non lo è. Non so se sono stato chiaro. E badate che non sto ragionando da vecchio nostalgico. Sto ragionando da chi ragiona e basta. Oppure ogni volta che si esprime un concetto bisogna impoverirlo attraverso il filtro della biografia personale e delle debolezze personali? Questo è insano in chi lo fa e denota una indolenza in chi elabora così il giudizio sugli altri. Ma so che lo farete. Andrete via da qui, vi ritroverete sotto il mio portone. Parlerete a bassa voce perché avete paura che io, mentre chiudo le finestre, possa
sentire. E commenterete: Gegè si è fatto
vecchio.

Non sa quello che dice e comunque quello che dice ce lo ha già detto la settimana scorsa. L’arteriosclerosi… aggiungerà sospirante qualchedun altro. E queste so’ due chiacchiere prima di dirsi ‘buonanotte, giovedì venite a cena da me, ho comprato il tonno fresco’. Lo fate e lo farete, ma non avrete risolto niente, perché la banalità e la malevolenza vi fanno prendere sonno fino a quando il sonno vorrà farvi una cortesia.

Poi sapete che succederà? Un giorno il sonno, galantuomo come pochissimi, lascerà il passo al senso di colpa. E gli dirà: ‘senso, va’ tu stanotte, fagli capire tutta la pochezza del mondo che gli appartiene, io vado da Rosati a farmi un
vermouth’.

Allora crederete di essere diventati insonni, è tipico dell’ignorante, del povero di spirito e dell’anti-ironico, confondere il problema con il problema. Ma non è insonnia, è che vi stanno facendo pagare il conto per aver detto una sera d’estate, brilli ma non ubriachi, sotto un portone: ‘Gegè si è fatto vecchio’. Gli uomini non sono in grado di commettere vendetta, a questo limite suppliscono egregiamente i destini degli uomini. Implacabili. Sì, è vero, Gegè si è fatto vecchio, tra poco morirà, ma possiede ancora la forza, stentata e disperata, di urlare in una notte d’estate sconveniente, contro un bicchiere vuoto di vino bianco, annuiscimi ancora, Carla, tu, annuiscimi ancora.”

Non ha annuito nessuno. La brezza ha intirizzito i corpi. Si era fatto tardi. Un silenzio opaco ha accompagnato i cuori asciutti, e Gegè già con lo sguardo altrove.

Era scivolato, senza soluzione di continuità, dalla socializzazione al monologo solipsistico. Di colpo, eravamo un ingombro alla sua morte. Come certi mobili che, dopo il trasloco, ti scocci di spostare. I suoi occhi acquosi e lacrimosi, come quelli di tutti i vecchi, puntavano la sordida litania dei gabbiani svolazzanti sull’altare della patria. Tutto fermo, che potevi sentire i rutti soppressi di Falanghina. Un mutismo museale e ragionevole è scivolato sotto gli scialli delle signore, lì, sulla terrazza che ha ospitato liti e nottate, novità e riti obsoleti. Una delle terrazze più belle dell’universo. Che guarda i tetti,
questi eterni sovrintendenti
della commedia
umana.

Bisogna saperle dire le cose, si è pensato collettivamente. Bisogna saperle dire, vuoi per mettere paura, vuoi per regalare l’emozione. Questo ai miei occhi aveva regalato Gegè: la paura e l’emozione, senza distinzioni. Sovrapposte come carta carbone.

Ma il problema degli altri era sempre lo stesso, era la loro vanità ferita. Non erano loro a saper dire le cose, ma un altro, Gegè nello specifico, talvolta con termini sconosciuti e inarrivabili. Questo inibisce. Quando pensi che devi girare col dizionario sotto braccio ti fai nervoso. Da qualche parte, non sai bene dove, ma stanno attentando alla tua dignità. Questo si faceva insopportabile e Gegè lo sapeva troppo bene, per questo pronosticava in anteprima le chiacchiere becere e sbrigative su di lui. Si può commettere qualsiasi reato sull’uomo, vi perdonerà, ma non toccategli la sua vanità. Allora, diventa una belva vendicativa e
incontrollabile.

Accanito come uno sciacallo, risolleverà il capo solo quando resterà di voi un’ombra di ossa sul tappeto orientale del salotto.

Emma Rapisarda si è guardata le scarpe di sottecchi.

Quattromila euro. Sordida comparsa mondana, Emma, che raffredda qualsiasi emotività dentro un consumismo selvaggio, una schizofrenia materialista. Non ci crede agli uomini. Un’altra forma d’arredamento, gli uomini. Crede, invece, alle scarpe e ai principi ispiranti la massoneria.

Ma le sue parole, insomma. Quelle parole di Gegè. Un altro congedo molle dalla vita. E, al contempo, un attaccamento memorabile ad un’esistenza priva di qualsiasi prospettiva.

Mi sono commosso come quando vidi piangere mio padre alla guida dell’automobile, all’improvviso.

Aveva avvertito tutto il peso del traffico congestionato e dell’assenza di senso dell’esistenza. E non mi capitava da troppo tempo di commuovermi a quel modo.

Quali parole dopo? Com’è brusco tornare alla trivialità della quotidianità dopo aver assistito al teatro di Gegè, al cinema di Gegè. È per questo che non vado mai al cinema. Quando lo spettacolo finisce, fuori c’è la caducità della normalità. E questa escalation brutale, violenta, mi fa soffrire come un povero uomo tra i poveri
uomini.

Mi fa sentire fuori dalla vita alla quale vorrei appartenere per sempre. Quella del film.

Fuori, è tutto uno stupro.

*