O pequeno Mozart como um experimento científico

Um relatório de Daniel Barrington para a Royal Society, publicado no anuário Philosophical Transactions. Londres, 1765 d.C.

 

Sir,

Se eu lhe enviar um relato bem fundamentado de um garoto que mede sete pés de altura, quando ele não tinha mais que 8 anos de idade, talvez não seja considerado como indigno da atenção da Royal Society.

O caso que eu desejo que o senhor comunique a este honorável corpo de eruditos, desde cedo um emprego dos mais extraordinários talentos musicais, parece deveras merecedor de sua atenção.

Joannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart nasceu em Salzburgo em 17 de Janeiro de 1756.

(…)

[Aos 8 anos de idade, depois de uma temporada em Paris,] ele veio à Inglaterra, onde permaneceu por mais de um ano. Como nesta época eu testemunhei as suas mais extraordinárias habilidades de músico, tanto em concertos públicos quanto na casa de seu pai, quando tive mais de uma oportunidade de ficar sozinho com ele por períodos consideráveis; envio o seguinte relatório, que parecerá extraordinário e quase incrível.

(…)

[Entre outras coisas,] eu o vi, em sua lição, tocar uma sonata difícil, que ele acabara de compor há um dia ou dois: a sua execução foi incrível, considerando que seus dedinhos alcançavam com dificuldade uma quinta no cravo.

Sua extraordinária presteza, no entanto, não surgiu meramente de uma longa prática; ele tinha um conhecimento exaustivo dos princípios fundamentais da composição, já que, após produzir uma melodia, ele imediatamente escreveu um baixo sob ela, que, quando experimentado, teve um ótimo efeito.

Os fatos que estive mencionando, eu os vi com meus próprios olhos; e a eles eu devo acrescentar que, conforme o testemunho de dois ou três hábeis músicos, quando Johann Christian Bach, o celebrado compositor, começou a compor uma fuga e a abandonou abruptamente, este pequeno Mozart a retomou imediatamente, e a elaborou de um modo absolutamente magistral.

Presenciando tão extraordinários fatos, devo confessar que não pude deixar de suspeitar de que seu pai nos ludibriava sobre a verdadeira idade do garoto, ainda que ele não só tivesse uma aparência infantil, como também apresentasse o comportamento próprio desta idade da vida.

Por exemplo, enquanto ele tocava para mim, um gato de estimação apareceu; ele abandonou o cravo e por um tempo considerável não fomos capazes de fazê-lo retornar.

Além disso, [e aqui concluo], eu o vi várias vezes correndo pela sala com uma vara entre as pernas como se fosse um cavalo.