O Grande Teatro do Mundo

O Criador, a Criação e as criaturas se encontram no Primeiro Ato.

Auto sacramental alegórico do Padre Pedro Calderón de la Barca. Valencia, 1641 d.C.

 

Querendo celebrar seu poder, Deus invoca o Mundo para preparar uma festa. Será um espetáculo, com os homens por protagonistas. O Mundo deve produzir a comédia “fabricando dúvidas que se passem a evidências.” Quando cenário, figurino e demais recursos cênicos estão prontos, o Mundo invoca os mortais e abandona o palco.

AUTOR
Mortais que ainda não viveis,
eu já vos chamo mortais,
pois no meu conceito iguais
esperais ser o que sereis;
mesmo sem ouvidos escuteis,
vinde a estes vergéis,
pois cingido de lauréis,
cedros e palma vos espero,
porque aqui entre todos quero
repartir estes papéis.

(Saem o RICO, O REI, o LAVRADOR, o POBRE e a FORMOSURA, a DISCRIÇÃO e um MENINO).

REI
Viemos servir com obediência,
Autor nosso, pois é sabido
que não é preciso ter nascido
para viver em tua providência.
Nem alma, sentido, potência,
vida ou razão temos;
todos informes nos vemos,
pó somos de teus pés,
Sopra este pó, pois,
para que representemos.

FOMOSURA
Só em teu conceito estamos,
não damos vida nem vivemos,
nem tocamos nem vemos,
nem do bem nem o mal gozamos;
porém, se rumo ao mundo vamos
todos a representar,
os papéis podes dar,
pois nesta ocasião
não nos cabe eleição
na parte que iremos tomar.

LAVRADOR
Autor meu, grão regente,
a quem desde hoje conheço,
às tuas ordens me ofereço,
saído de tua mão, de tua mente,
pois tu sabes, e é evidente,
já que em Deus não há o ignorar,
qual papel me podes dar,
e se eu errar este papel,
não poderei me queixar ao céu,
de mim me poderei queixar.

AUTOR
Já sei que se para ser
o homem tivesse opção,
ninguém aceitaria a missão
de sofrer e padecer;
todos quereriam receber
a de reinar e dirigir,
sem ver, sem advertir
que num ato tão singular
isso é mero representar,
ainda que pense ser existir.
Porém eu, Autor régio e são,
sei bem qual papel fará
melhor cada um; assim vá
repartindo-os, minha mão.
Faz tu o Rei.

(Dá seu papel a cada um).

REI
Honras me dão.

AUTOR
A dama, que é a formosura
humana, tu.

FORMOSURA
Que ventura!

AUTOR
Faz tu o rico, o poderoso.

RICO
Enfim, nasço venturoso
a ver do sol a luz pura.

AUTOR
Tu hás de fazer o lavrador.

LAVRADOR
É ofício ou benefício?

AUTOR
É um trabalhoso ofício.

LAVRADOR
Serei mal trabalhador.
Por vossa vida, Senhor,
ainda que eu seja filho de Adão,
não me deis este quinhão,
ainda que me deis possessões,
porque tenho premonições
que hei de ser grande folgazão.
De minha natureza espero,
sendo tão novo, Senhor,
que serei mal cavador
e serei pior quinteiro;
se aqui valesse um “não quero”
eu o diria, mas diante
de um autor tão elegante,
“não quero” não remedia nada,
e assim na comédia malfadada
serei o pior representante.
Como sois sensato, me dais
por talento uma incumbência,
e assim minha parca inteligência
suportais e dissimulais;
neve como lã dais;
justo sois, não posso me queixar;
mas havereis de me perdoar,
por vosso amor, vossa arte,
se farei, Senhor, a minha parte
lentamente pra não me cansar.

AUTOR
Tu, a discrição farás.

DISCRIÇÃO
Venturoso estado sigo.

AUTOR
Faz tu ao mísero, ao mendigo.

POBRE
É este o papel que me dás?

AUTOR
Tu, sem nascer morrerás.

MENINO
Pouco estudo o papel pede.

AUTOR
Assim minha sabedoria impede
que representes coisa viva.
Sou justiça distributiva
e dou o que não te excede.

POBRE
Se eu pudesse me escusar
deste papel, me escusaria,
vendo que a vida não iria
além do que me quiseste dar;
e já que não posso protestar,
ainda que, atrevido, o queira,
eu o tomo, mas considera,
já que hei de fazer o mendigo,
não, Senhor, o que te digo,
mas o que te dizer quisera.
Por que o papel que me dão
é o do pobre nesta comédia?
Para mim há de ser tragédia,
e para os outros não?
Quando me deu a tua mão
este papel, não me deu nele
alma igual à daquele
que faz o rei? Igual sentido?
Igual ser? Então, por que tão doído,
tão diverso meu papel do dele?
Se de outro barro fosse tirado,
se com outra alma fosse adornado,
se menos vida me tivesses fiado
e menos sentidos me dado;
aí pareceria teres ponderado
outro motivo, Senhor;
mas parece rigor,
perdoa meu dizer, cruel,
o ser melhor o seu papel
não sendo seu ser superior.

AUTOR
Na representação
igualmente satisfaz
o que bem o pobre faz
com afeto, alma e ação
quanto o que faz ao rei, e são
iguais este e aquele
se cumprem o papel que os impele.
Faze tu bem o teu e pensa
que para a recompensa
eu te igualarei a ele.
Não porque pena te sobre;
sendo pobre, é em minha lei
melhor papel o do rei
se faz bem o seu o pobre;
um e outro de mim cobre
todo o salário depois
que tiver merecido, pois
todo papel tem ganhos e danos,
já que vós todos, humanos,
personagens sois.
Quando a comédia for encerrada
há de cear ao meu lado
aquele que tiver representado,
sem ter errado em nada,
sua parte mais acertada;
ali hei de igualar aos dois.

FORMOSURA
Dizei-nos, Senhor que sois,
como na língua da fama
esta comédia se chama?

AUTOR
Obrar bien, que Dios es Dios.

REI
Muito importa que não erremos
comédia tão misteriosa.

RICO
Para isso é ação forçosa
que primeiro a ensaiemos.

DISCRIÇÃO
Como ensaiá-la poderemos,
se não conseguimos ver,
sem luz, sem alma e sem ser,
antes de representar?

POBRE
Mas como sem ensaiar
a comédia há de acontecer?

LAVRADOR
Também esta pulga atrás
       da orelha
trago, pois creio, Senhor,
que são, pobre e lavrador,
como o par duma parelha.
Mesmo uma comédia velha
farta de ser representada,
se não é de novo ensaiada,
fracassa quando se a prova.
Se não se ensaia esta nova,
como há de ser acertada?

AUTOR
Todos vós deveis entender
que, sendo o céu vosso juiz,
há uma só chance, assim eu quis,
entre o nascer e o morrer.

FORMOSURA
Mas como haveremos de saber
a hora de entrar e sair,
o tempo de chorar ou rir?

AUTOR
Também isso se há de ignorar,
tereis uma chance de provar
o quanto vale morrer e existir.
Estai sempre prevenidos
para cumprir vosso papel;
pois dareis contas a mim e ao céu.

POBRE
E se acaso os sentidos
vierem a ser perdidos?

AUTOR
Para isso, comum grei,
tereis, desde o pobre ao rei,
para emendar o que errar
e ensinar ao que ignorar,
os ditames da minha Lei;
ela a todos dirá
o que fazer, e assim
não podeis vos queixar de mim.
Arbítrio tendes já,
e assim preparado está
o espetáculo; vós, ó vós,
medi as distâncias
que vos separam da vida.

(Vai.)

DISCRIÇÃO
Que esperamos?
Vamos ao teatro!

TODOS
Vamos
obrar bem, pois Deus é Deus!

(Quando estão para entrar, sai o MUNDO e os detêm).

MUNDO
Já está tudo preparado
para que se represente
esta comédia aparente
que faz o humano fado.

REI
Peço púrpura e laurel de bom grado.

MUNDO
Por que púrpura e laurel?

REI
Por que faço este papel.

(Mostra-lhe o papel, e toma a púrpura e a coroa e vai).

MUNDO
Esse aí pronto está.

FORMOSURA
E a mim cores para já,
jasmim, rosa, flores ao léu.
Folha a folha e raio a raio,
resplandeçam com alegria
todas as luzes do dia,
todas as flores de maio;
padeça mortal desmaio
de inveja o sol ao me olhar,
e como tanto luminar
o girassol ver deseja,
a flor de minhas luzes seja
sendo o sol o meu girassol.

MUNDO
Como vens tão vã, leviana,
representar o mundo?

FORMOSURA
Neste papel me fundo.

MUNDO
Quem és?…

FORMOSURA
                 …A formosura humana.

MUNDO
Cristal, neve e carmim mundana
tinjam-te de sombras e sinais,
de cores vivas como corais.

(Dá-lhe um ramalhete).

FORMOSURA
Pródiga estou de cores.
Servi-me de tapete, flores;
Sede meus espelhos, cristais.

(Vai).

RICO
Dá-me riquezas a mim,
alegrias e felicidades,
pois para prosperidades
aqui viver eu vim.

MUNDO
A ti minhas entranhas, sim,
em pedaços romperei;
de meus seios sacarei
toda prata e o ouro,
que num avarento tesouro
tão fechado ocultei.

(Dá-lhe jóias).

RICO
Soberbo e desvanecido
com tantas riquezas sigo.

(Vai.)

DISCRIÇÃO
Peço para onde vou
um pedaço de chão que será
       agradecido.

MUNDO
Que papel levas contigo?

DISCRIÇÃO
A discrição estudiosa.

MUNDO
Discrição tão religiosa
toma jejum e oração.

(Dá-lhe cilício e disciplina).

DISCRIÇÃO
Não seria eu a Discrição
tomando de ti outra coisa.

(Vai).

MUNDO
Como entras sem nada pedir
para o papel que hás de fazer?

MENINO
Como para o que hei de viver
em nada preciso de ti…
Sem nascer sei que morri,
em ti não tenho de estar
mais tempo que o de passar
de uma cela à outra mais escura,
e para uma sepultura,
que por força me hás de dar.

(Vai).

MUNDO
E tu, tosco, queres algo, bem sei.

LAVRADOR
O que lhe daria eu.

MUNDO
Eia, diz qual papel é o teu.

LAVRADOR
Eia, digo que não direi.

MUNDO
Procedendo assim inferirei
que como bruto peão
haverás de ganhar teu pão.

LAVRADOR
Essa miséria me foi dada.

MUNDO
Pois toma aqui esta enxada.

(Dá-lhe uma enxada).

LAVRADOR
Esta é a herança de Adão.
O senhor Adão bem poderia,
pois tanto veio a conhecer,
entender que sua mulher
pecava com sabedoria;
deixasse-a comer o que queria,
e, no comer, fosse-lhe infiel;
mas como amante cruel
dirá que lhe obedeceu,
e assim tão mal quanto eu
representou seu papel.

(Vai).

POBRE
Já que todos dás comprazimento,
gostos e alegrias sem fim,
dá-me pesares a mim,
dá-me pena e tormento;
do que deste a contento
não quero púrpura e laurel;
aquelas cores, aquele mel,
ouro ou prata não necessito.
Só remendos te solicito.

MUNDO
Qual papel é teu papel?

POBRE
É meu papel a aflição,
é a angústia, é a miséria,
o infortúnio, a paixão,
a dor, a compaixão,
o suspirar, o gemer,
o padecer, o sofrer,
importunar e rogar,
é nunca ter o que dar,
é sempre ter de depender.
O desprezo, a esquivez,
a censura, o lamento,
a vergonha, o sofrimento,
a fome, a nudez,
o pranto, a escassez,
a imundice, a baixeza,
o desconsolo e pobreza,
a sede, a penalidade,
e é a vil necessidade,
pois tudo isso é a pobreza.

MUNDO
A ti nada te hei de dar,
pois o papel do pobre prevê
que nada o mundo lhe dê,
antes penso em te tirar
as roupas, pois hás de andar
nu, para que ninguém se iluda:
(Desnuda-o)
é o meu papel, o mundo não muda.

POBRE
Enfim, este mundo agreste
ao que está vestido veste
e ao desnudo desnuda.

MUNDO
Já que de vários estados
está o teatro coberto,
pois há um rei decerto
com impérios dilatados;
beldade a cujos cuidados
se adormecem os sentidos,
poderosos aplaudidos,
mendigos, andrajosos,
lavradores, religiosos,
que foram introduzidos
para fazer os personagens
na comédia deste dia,
à qual dou palco e coxia,
as vestes e trajes,
as esmolas e ultrajes,
vem!, divino Autor, vem ver
as festas que te hão de fazer
os homens! Abra-se o centro
da terra, pois lá dentro
o drama vai acontecer.

AUTOR
Mortales que aún no vivís
y ya os llamo yo mortales,
pues en mi concepto iguales
antes de ser asistís;
aunque mis voces no oís,
venid a aquestos vergeles,
que ceñido de laureles,
cedros y palma os espero,
porque yo entre todos quiero
repartir estos papeles.

(Salen el RICO, el REY, el LABRADOR, el POBRE y la HERMOSURA, la DISCRECIÓN y un NIÑO.)

REY
Ya estamos a tu obediencia,
Autor nuestro, que no ha sido
necesario haber nacido
para estar en tu presencia.
Alma, sentido, potencia,
vida, ni razón tenemos;
todos informes nos vemos,
polvo somos de tus pies.
Sopla aqueste polvo, pues,
para que representemos.

HERMOSURA
Solo en tu concepto estamos,
ni animamos ni vivimos,
ni tocamos ni sentimos,
ni del bien ni el mal gozamos;
pero, si hacia el mundo vamos
todos a representar,
los papeles puedes dar,
pues en aquesta ocasión
no tenemos elección
para haberlos de tomar.

LABRADOR
Autor mío soberano
a quien conozco desde hoy,
a tu mandamiento estoy
como hechura de tu mano,
y pues tú sabes, y es llano
porque en Dios no hay ignorar,
qué papel me puedes dar,
si yo errare ese papel,
no me podré quejar de él,
de mí me podré quejar.

AUTOR
Ya sé que si para ser
el hombre elección tuviera,
ninguno el papel quisiera
del sentir y padecer;
todos quisieran hacer
el de mandar y regir,
sin mirar, sin advertir
que en acto tan singular
aquello es representar,
aunque piense que es vivir.
Pero yo, Autor soberano,
sé bien qué papel hará
mejor cada uno; así va
repartiéndolos mi mano.
Haz tú el Rey.

(Da su papel a cada uno.)

REY
Honores gano.

AUTOR
La dama, que es la hermosura
humana, tú.

HERMOSURA
¡Qué ventura!

AUTOR
Haz tú al rico, al poderoso.

RICO
En fin, nazco venturoso
a ver del sol la luz pura.

AUTOR
Tú has de hacer al labrador.

LABRADOR
¿Es oficio o beneficio?

AUTOR
Es un trabajoso oficio.

LABRADOR
Seré mal trabajador.
Por vida vuestra, Señor,
que aunque soy hijo de Adán,
que no me deis este afán,
aunque me deis posesiones,
porque tengo presumpciones
que he de ser grande holgazán.
De mi natural infiero,
con ser tan nuevo, Señor,
que seré mal cavador
y seré peor quintero;
si aquí valiera un «no quiero»
dijérale, mas delante
de un autor tan elegante,
nada un «no quiero» remedia,
y así seré en la comedia
el peor representante.
Como sois cuerdo, me dais
como el talento el oficio,
y así mi poco juicio
sufrís y disimuláis;
nieve como lana dais;
justo sois, no hay que quejarme;
y pues que ya perdonarme
vuestro amor me muestra en él,
yo haré, Señor, mi papel
despacio por no cansarme.

AUTOR
Tú la discreción harás.

DISCRECIÓN
Venturoso estado sigo.

AUTOR
Haz tú al mísero, al mendigo.

POBRE
¿Aqueste papel me das?

AUTOR
Tú sin nacer morirás.

NIÑO
Poco estudio el papel tiene.

AUTOR
Así mi ciencia previene
que represente el que viva.
Justicia distributiva
soy, y es lo que os conviene.

POBRE
Si yo pudiera excusarme
deste papel, me excusara,
cuando mi vida repara
en el que has querido darme;
y ya que no declararme
puedo, aunque atrevido quiera,
le tomo, mas considera,
ya que he de hacer el mendigo,
no, Señor, lo que te digo,
lo que decirte quisiera.
¿Por qué tengo de hacer yo
el pobre en esta comedia?
¿Para mí ha de ser tragedia,
y para los otros no?
¿Cuando este papel me dio
tu mano, no me dio en él
igual alma a la de aquel
que hace al rey? ¿Igual sentido?
¿Igual ser? Pues ¿por qué ha sido
tan desigual mi papel?
Si de otro barro me hicieras,
si de otra alma me adornaras,
menos vida me fïaras,
menos sentidos me dieras;
ya parece que tuvieras
otro motivo, Señor;
pero parece rigor,
perdona decir crüel,
el ser mejor su papel
no siendo su ser mejor.

AUTOR
En la representación
igualmente satisface
el que bien al pobre hace
con afecto, alma y acción
como el que hace al rey, y son
iguales este y aquel
en acabando el papel.
Haz tú bien el tuyo y piensa
que para la recompensa
yo te igualaré con él.
No porque pena te sobre,
siendo pobre, es en mi ley
mejor papel el del rey
si hace bien el suyo el pobre;
uno y otro de mí cobre
todo el salario después
que haya merecido, pues
con cualquier papel se gana,
que toda la vida humana
representaciones es.
Y la comedia acabada
ha de cenar a mi lado
el que haya representado,
sin haber errado en nada,
su parte más acertada;
allí igualaré a los dos.

HERMOSURA
Pues decidnos, Señor, Vós,
¿cómo en lengua de la fama
esta comedia se llama?

AUTOR
Obrar bien, que Dios es Dios.

REY
Mucho importa que no erremos
comedia tan misteriosa.

RICO
Para eso es acción forzosa
que primero la ensayemos.

DISCRECIÓN
¿Cómo ensayarla podremos
si nos llegamos a ver
sin luz, sin alma y sin ser
antes de representar?

POBRE
Pues ¿cómo sin ensayar
la comedia se ha de hacer?

LABRADOR
Del pobre apruebo
       la queja,
que lo siento así, Señor,
que son pobre y labrador
para par a la pareja.
Aun una comedia vieja
harta de representar,
si no se vuelve a ensayar
se yerra cuando se prueba.
Si no se ensaya esta nueva,
¿cómo se podrá acertar?

AUTOR
Llegando ahora a advertir
que, siendo el cielo juez,
se ha de acertar de una vez
cuanto es nacer y morir.

HERMOSURA
Pues ¿el entrar y salir
cómo lo hemos de saber
ni a qué tiempo haya de ser?

AUTOR
Aun eso se ha de ignorar,
y de una vez acertar
cuanto es morir y nacer.
Estad siempre prevenidos
para acabar el papel;
que yo os llamaré al fin dél.

POBRE
¿Y si acaso los sentidos
tal vez se miran perdidos?

AUTOR
Para eso, común grey,
tendré, desde el pobre al rey,
para enmendar al que errare
y enseñar al que ignorare,
con el apunto a mi Ley;
ella a todos os dirá
lo que habéis de hacer, y así
nunca os quejareis de mí.
Albedrío tenéis ya,
y pues prevenido está
el teatro, vós y vós
medid las distancias dos
de la vida.

(Vase.)

DISCRECIÓN
¿Qué esperamos?
¡Vamos al teatro!

TODOS
¡Vamos
a obrar bien, que Dios es Dios!

(Al irse a entrar, sale el MUNDO y detiénelos.)

MUNDO
Ya está todo prevenido
para que se represente
esta comedia aparente
que hace el humano sentido.

REY
Púrpura y laurel te pido.

MUNDO
¿Por qué púrpura y laurel?

REY
Porque hago este papel.

(Enséñale el papel, y toma la púrpura y corona, y vase.)

MUNDO
Ya aquí prevenido está.

HERMOSURA
A mí matices me da
de jazmín, rosa y clavel.
Hoja a hoja y rayo a rayo
se desaten a porfía
todas las luces del día,
todas las flores de mayo;
padezca mortal desmayo
de envidia al mirarme el sol,
y como a tanto arrebol
el girasol ver desea,
la flor de mis luces sea
siendo el sol mi girasol.

MUNDO
Pues ¿cómo vienes tan vana
a representar al mundo?

HERMOSURA
En este papel me fundo.

MUNDO
¿Quién es?…

HERMOSURA
       …La hermosura humana.

MUNDO
Cristal, carmín, nieve y grana
pulan sombras y bosquejos
que te afeiten de reflejos.

(Dale un ramillete.)

HERMOSURA
Pródiga estoy de colores.
Servidme de alfombra, flores;
sed, cristales, mis espejos.

(Vase.)

RICO
Dadme riquezas a mí,
dichas y felicidades,
pues para prosperidades
hoy vengo a vivir aquí.

MUNDO
Mis entrañas para ti
a pedazos romperé;
de mis senos sacaré
toda la plata y el oro,
que en avariento tesoro
tanto encerrado oculté.

(Dale joyas.)

RICO
Soberbio y desvanecido
con tantas riquezas voy.

(Vase.)

DISCRECIÓN
Yo, para mi papel, hoy
tierra en que vivir 
       te pido.

MUNDO
¿Qué papel el tuyo ha sido?

DISCRECIÓN
La discreción estudiosa.

MUNDO
Discreción tan religiosa
tome ayuno y oración.

(Dale cilicio y diciplina.)

DISCRECIÓN
No fuera yo Discreción
tomando de ti otra cosa.

(Vase.)

MUNDO
¿Cómo tú entras sin pedir
para el papel que has de hacer?

NIÑO
Como no te he menester
para lo que he de vivir…
Sin nacer he de morir,
en ti no tengo de estar
más tiempo que el de pasar
de una cárcel a otra obscura,
y para una sepultura
por fuerza me la has de dar.

(Vase.)

MUNDO
¿Qué pides tú, di, grosero?

LABRADOR
Lo que le diera yo a él.

MUNDO
Ea, muestra tu papel.

LABRADOR
Ea, digo que no quiero.

MUNDO
De tu proceder infiero
que como bruto gañán
habrás de ganar tu pan.

LABRADOR
Esas mis desdichas son.

MUNDO
Pues toma acueste azadón.

(Dale un azadón.)

LABRADOR
Esta es la herencia de Adán.
Señor Adán, bien pudiera,
pues tanto llegó a saber,
conocer que su mujer
pecaba de bachillera;
dejárala que comiera
y no la ayudara él;
mas como amante cruel
dirá que se lo rogó,
y así tan mal como yo
representó su papel.

(Vase.)

POBRE
Ya que a todos darles dichas,
gustos y contentos vi,
dame pesares a mí,
dame penas y desdichas;
no de las venturas dichas
quiero púrpura y laurel;
deste colores, de aquel
plata ni oro no he querido.
Solo remiendos te pido.

MUNDO
¿Qué papel es tu papel?

POBRE
Es mi papel la aflicción,
es la angustia, es la miseria,
la desdicha, la pasión,
el dolor, la compasión,
el suspirar, el gemir,
el padecer, el sentir,
importunar y rogar,
el nunca tener que dar,
el siempre haber de pedir.
El desprecio, la esquivez,
el baldón, el sentimiento,
la vergüenza, el sufrimiento,
la hambre, la desnudez,
el llanto, la mendiguez,
la inmundicia, la bajeza,
el desconsuelo y pobreza,
la sed, la penalidad,
y es la vil necesidad,
que todo esto es la pobreza.

MUNDO
A ti nada te he de dar,
que el que haciendo al pobre vive
nada del mundo recibe,
antes te pienso quitar
estas ropas, que has de andar
desnudo, para que acuda
(Desnúdale.)
yo a mi cargo, no se duda.

POBRE
En fin, este mundo triste
al que está vestido viste
y al desnudo le desnuda.

MUNDO
Ya que de varios estados
está el teatro cubierto,
pues un rey en él advierto,
con imperios dilatados;
beldad a cuyos cuidados
se adormecen los sentidos,
poderosos aplaudidos,
mendigos, menesterosos,
labradores, religiosos,
que son los introducidos
para hacer los personajes
de la comedia de hoy,
a quien yo el teatro doy,
las vestiduras y trajes,
de limosnas y de ultrajes,
¡sal, divino Autor, a ver
las fiestas que te han de hacer
los hombres! ¡Ábrase el centro
de la tierra, pues que dentro
della la escena ha de ser!