Iluminuras urbanas

8 poemas em prosa das Iluminações de Arthur Rimbaud. Revista La Vogue, Paris, 1886 d.C.

 

Tradução de Marcelo Consentino.

oferecimento

 

 

 

 

Cidade

Eu sou um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole tida por moderna porque todo gosto conhecido foi eludido nas mobílias e no exterior das casas tanto quanto no plano da cidade. Aqui vocês não assinalarão os traços de nenhum monumento de superstição. A moral e a língua estão reduzidas à sua mais simples expressão, finalmente! Estes milhões de pessoas que não têm o anseio de se conhecer conduzem tão similarmente a educação, a profissão e a velhice, que este curso de vida deve ser muitas vezes menos longo do que aquele que uma estatística louca encontra para os povos do continente. Assim como, de minha janela, eu vejo espectros novos circulando através da espessa e eterna fumaça do carvão, – nossa sombra dos bosques, nossa noite de verão! – Erínias novas, ante minha choupana que é minha pátria e todo o meu coração porque tudo aqui se parece com isto – a Morte sem prantos, nossa ativa filha e serva, um Amor desesperado e um lindo Crime choramingando na lama da rua.

Je suis un éphémère et point trop mécontent citoyen d’une métropole crue moderne, parce que tout goût connu a été éludé dans les ameublements et l’extérieur des maisons aussi bien que dans le plan de la ville. Ici vous ne signaleriez les traces d’aucun monument de superstition. La morale et la langue sont réduites à leur plus simple expression, enfin ! Ces millions de gens qui n’ont pas besoin de se connaître amènent si pareillement l’éducation, le métier et la vieillesse, que ce cours de vie doit être plusieurs fois moins long que ce qu’une statistique folle trouve pour les peuples du Continent. Aussi comme, de ma fenêtre, je vois des spectres nouveaux roulant à travers l’épaisse et éternelle fumée de charbon, — notre ombre des bois, notre nuit d’été ! — des Érinnyes nouvelles, devant mon cottage qui est ma patrie et tout mon cœur puisque tout ici ressemble à ceci, — la Mort sans pleurs, notre active fille et servante, un Amour désespéré et un joli
Crime piaulant dans la boue
de la rue.

Democracia

“A bandeira vai à paisagem imunda, e nosso linguajar sufoca o tambor.

“Nos centros nós alimentaremos a mais cínica prostituição. Nós massacraremos as revoltas lógicas.

“Aos países apimentados e encharcados! – ao serviço das mais monstruosas explorações industriais ou militares.

“Até mais ver aqui, não importa onde. Conscritos da boa vontade, nós teremos a filosofia feroz; ignorantes para a ciência, ardilosos para o conforto; que se exploda esse mundo que vai. É a verdadeira rota. Em frente, marche!”

« Le drapeau va au paysage immonde, et notre patois étouffe le tambour.

« Aux centres nous alimenterons la plus cynique prostitution. Nous massacrerons les révoltes logiques.

« Aux pays poivrés et détrempés ! — au service des plus monstrueuses exploitations industrielles ou militaires.

« Au revoir ici, n’importe où. Conscrits du bon vouloir, nous aurons la philosophie féroce ; ignorants pour la science, roués pour le confort ; la crevaison pour le monde qui va. C’est la vraie marche.
En avant, route ! »

Operários

Ó esta quente manhã de inverno! O Sul inoportuno vem reerguer nossas lembranças de indigentes absurdos, nossa jovem miséria.

Henrika tinha uma saia de algodão xadrez branca e marrom, que deviam usar no século passado, uma boina com fitas, e um lenço de seda. Foi bem mais triste que um luto. Nós fazíamos um tour pela periferia. O tempo estava coberto e este vento do Sul excitava todos os maus cheiros dos jardins devastados e dos prados ressecados.

Isso não devia cansar a minha mulher tanto quanto a mim. Numa poça deixada pela inundação do mês precedente em uma trilha muito alta ela me fez notar uns peixinhos minúsculos.

A cidade com sua fumaça e seus ruídos de teares, nos seguia bem de longe nos caminhos. Ó o outro mundo, a habitação abençoada pelo céu e pelas sombras das árvores! O Sul me lembrava os miseráveis incidentes da minha infância, meus desesperos de verão, a horrível quantidade de força e de ciência que a sorte sempre afastou de mim. Não! nós não passaremos o verão neste país avaro onde jamais seremos mais do que órfãos noivos. Eu quero que este braço endurecido não arraste mais uma querida imagem.

Céus cinzas de cristal. Um bizarro desenho de pontes, estas retas, aquelas encurvadas, outras descendo ou obliquando em ângulos sobre as primeiras, e estas figuras se renovando nos outros circuitos iluminados do canal, mas todas tão longas e leves que as margens, carregadas de domos se abaixam e se diminuem. Algumas destas pontes estão ainda carregadas de casebres. Outras sustentam mastros, placas, frágeis parapeitos. Acordos menores se cruzam, e se fiam, cordas sobem dos baixios. Distingue-se uma veste vermelha, talvez outras roupas e instrumentos de música. Serão ares populares, pedaços de concertos senhoriais, remanescentes de homens públicos? A água é cinza e azul, larga como um braço de mar. – Um raio branco, se precipitando do alto do céu, aniquila esta comédia.

Ô cette chaude matinée de février. Le Sud inopportun vint relever nos souvenirs d’indigents absurdes, notre jeune
misère.

Henrika avait une jupe de coton à carreau blanc et brun, qui a dû être portée au siècle dernier, un bonnet à rubans, et un foulard de soie. C’était bien plus triste qu’un deuil. Nous faisions un tour dans la banlieue. Le temps était couvert, et ce vent du Sud excitait toutes les vilaines odeurs des jardins ravagés et des prés desséchés.

Cela ne devait pas fatiguer ma femme au même point que moi. Dans une flache laissée par l’inondation du mois précédent à un sentier assez haut elle me fit remarquer de très petits poissons.

La ville, avec sa fumée et ses bruits de métiers, nous suivait très loin dans les chemins. Ô l’autre monde, l’habitation bénie par le ciel et les ombrages ! Le sud me rappelait les misérables incidents de mon enfance, mes désespoirs d’été, l’horrible quantité de force et de science que le sort a toujours éloignée de moi. Non ! nous ne passerons pas l’été dans cet avare pays où nous ne serons jamais que des orphelins fiancés. Je veux que ce bras
durci ne traîne plus
une chère image.

Des ciels gris de cristal. Un bizarre dessin de ponts, ceux-ci droits, ceux-là bombés, d’autres descendant ou obliquant en angles sur les premiers, et ces figures se renouvelant dans les autres circuits éclairés du canal, mais tous tellement longs et légers que les rives, chargées de dômes s’abaissent et s’amoindrissent. Quelques-uns de ces ponts sont encore chargés de masures. D’autres soutiennent des mâts, des signaux, de frêles parapets. Des accords mineurs se croisent, et filent, des cordes montent des berges. On distingue une veste rouge, peut-être d’autres costumes et des instruments de musique. Sont-ce des airs populaires, des bouts de concerts seigneuriaux, des restants d’hymnes publics ? L’eau est grise et bleue, large comme un bras de mer. — Un rayon blanc, tombant du haut du ciel, anéantit cette comédie.

Cidades

A acrópole oficial supera as concepções da barbárie moderna mais colossais; impossível exprimir o dia fosco produzido pelo céu, imutavelmente cinza, o esplendor imperial dos edifícios, e a neve eterna do chão. Reproduziram num gosto de enormidade singular todas as maravilhas clássicas da arquitetura, e eu assisto a exposições de pintura em locais vinte vezes mais vastos que Hampton-Court. Que pintura! Um Nabucodonosor norueguês mandou construir as escadas dos ministérios; os subalternos que pude ver já são mais orgulhosos do que brâmanes, e eu tremi ante o aspecto dos guardiões de colossos e dos oficiais de construções. Pelo agrupamento dos prédios em praças, cortes, pátios e terraços fechados, suplantam-se os cocheiros. Os parques representam a natureza primitiva trabalhada por uma arte soberba, o bairro alto tem partes inexplicáveis: um braço de mar, sem barcos, deflui seu nevoeiro de granizo azul entre docas carregadas de candelabros gigantes. Uma ponte curta conduz a uma poterna imediatamente sob o domo da Sainte-Chapelle. Este domo é uma armadura de aço artística de quinze mil pés de diâmetro aproximadamente.

Sobre alguns pontos das passarelas de cobre, das plataformas, das escadas que contornam os mercados e as pilastras, acreditei poder julgar a profundeza da cidade! É o prodígio do qual não pude me dar conta: quais são os níveis dos outros bairros abaixo ou acima da acrópole? Para o estrangeiro do nosso tempo é impossível se orientar. O bairro comercial é um circo de um só estilo, com galerias de arcadas. Não vemos lojas, mas a neve da calçada foi pisoteada; alguns nababos tão raros quanto pedestres numa manhã de domingo em Londres, se dirigem à uma diligência de diamantes. Alguns divãs de veludo vermelho: servem bebidas polares cujo preço varia de oitocentas a oito mil rupias. Ante a ideia de buscar teatros sobre este circo, respondo-me que as lojas devem conter dramas bastante sombrios. Penso que existe uma polícia; mas a lei deve ser tão estranha, que eu renuncio a fazer
uma ideia dos aventureiros
daqui.

A periferia, tão elegante quanto uma bela rua de Paris, é favorecida por um ar de luz. O elemento democrático conta uns cem anos. Lá também as casas não são contíguas; a periferia se perde bizarramente no campo, o “Condado” que preenche o ocidente eterno das florestas e das plantações prodigiosas onde os cavalheiros selvagens caçam suas crônicas sob a luz
que foi criada.

L’acropole officielle outre les conceptions de la barbarie moderne les plus colossales ; impossible d’exprimer le jour mat produit par le ciel, immuablement gris, l’éclat impérial des bâtisses, et la neige éternelle du sol. On a reproduit dans un goût d’énormité singulier, toutes les merveilles classiques de l’architecture, et j’assiste à des expositions de peinture dans des locaux vingt fois plus vastes qu’Hampton-Court. Quelle peinture ! Un Nabuchodonosor norwégien a fait construire les escaliers des ministères ; les subalternes que j’ai pu voir sont déjà plus fiers que des Brennus, et j’ai tremblé à l’aspect des gardiens de colosses et officiers de constructions. Par le groupement des bâtiments en squares, cours et terrasses fermées, on évince les cochers. Les parcs représentent la nature primitive travaillée par un art superbe, le haut quartier a des parties inexplicables : un bras de mer, sans bateaux, roule sa nappe de grésil bleu entre des quais chargés de candélabres géants. Un pont court conduit à une poterne immédiatement sous le dôme de la Sainte-Chapelle. Ce dôme est une armature d’acier artistique de quinze mille pieds de diamètre
environ.

Sur quelques points des passerelles de cuivre, des plates-formes, des escaliers qui contournent les halles et les piliers, j’ai cru pouvoir juger la profondeur de la ville ! C’est le prodige dont je n’ai pu me rendre compte : quels sont les niveaux des autres quartiers sur ou sous l’acropole ? Pour l’étranger de notre temps la reconnaissance est impossible. Le quartier commerçant est un circus d’un seul style, avec galeries à arcades. On ne voit pas de boutiques, mais la neige de la chaussée est écrasée ; quelques nababs, aussi rares que les promeneurs d’un matin de dimanche à Londres, se dirigent vers une diligence de diamants. Quelques divans de velours rouge : on sert des boissons polaires dont le prix varie de huit cents à huit mille roupies. À l’idée de chercher des théâtres sur ce circus, je me réponds que les boutiques doivent contenir des drames assez sombres. Je pense qu’il y a une police ; mais la loi doit être tellement étrange, que je renonce à me faire une idée des aventuriers d’ici.

Le faubourg, aussi élégant qu’une belle rue de Paris, est favorisé d’un air de lumière, l’élément démocratique compte quelque cents âmes. Là encore, les maisons ne se suivent pas ; le faubourg se perd bizarrement dans la campagne, le « Comté » qui remplit l’occident éternel des forêts et des plantations prodigieuses où les gentilshommes sauvages chassent leurs chroniques sous la lumière qu’on a créée.

Manhã de embriaguez

Ó meu Bem! Ó meu Belo! Fanfarra atroz onde eu não tropeço! Pelourinho feérico! Viva a obra inaudita e o corpo maravilhoso, pela primeira vez! Tudo começou sob o riso das crianças, tudo terminará por elas. Este veneno vai permanecer em todas as nossas veias, mesmo quando, retornando a fanfarra, formos devolvidos à antiga inarmonia. Ó agora, nós tão dignos destas torturas! Reunamos fervorosamente esta promessa sobre-humana feita ao nosso corpo e à nossa alma criados: esta promessa, esta demência! A elegância, a ciência, a violência! Prometeram-nos enterrar na sombra a árvore do bem e do mal, deportar as honestidades tirânicas, afim de que levemos nosso puríssimo amor. Tudo começou com algumas náuseas e tudo terminou, – não podendo nos apropriar imediatamente desta eternidade, – tudo terminou com uma debandada de perfumes.

Riso das crianças, discrições dos escravos, austeridade das virgens, horror dos rostos e dos objetos daqui, santificados sejam pela lembrança deste despertar. Começou com todo tipo de grosseria, e eis que termina com anjos de chama e de gelo.

Breve vigília de embriaguez, santa! ainda que fosse só pela máscara com a qual tu nos gratificaste. Nós te afirmamos, método! Nós não esqueceremos que tu glorificaste ontem cada uma das nossas idades. Nós temos fé no veneno. Nós sabemos dar a nossa vida totalmente inteira todos os dias.

Eis aqui o tempo dos Assassinos.

Ô mon Bien ! Ô mon Beau ! Fanfare atroce où je ne trébuche point ! Chevalet féerique ! Hourra pour l’œuvre inouïe et pour le corps merveilleux, pour la première fois ! Cela commença sous les rires des enfants, cela finira par eux. Ce poison va rester dans toutes nos veines même quand, la fanfare tournant, nous serons rendu à l’ancienne inharmonie. Ô maintenant, nous si digne de ces tortures ! rassemblons fervemment cette promesse surhumaine faite à notre corps et à notre âme créés : cette promesse, cette démence ! L’élégance, la science, la violence! On nous a promis d’enterrer dans l’ombre l’arbre du bien et du mal, de déporter les honnêtetés tyranniques, afin que nous amenions notre très pur amour. Cela commença par quelques dégoûts et cela finit, — ne pouvant nous saisir sur-le-champ de cette éternité, — cela finit par une débandade de parfums.

Rire des enfants, discrétion des esclaves, austérité des vierges, horreur des figures et des objets d’ici, sacrés soyez-vous par le souvenir de cette veille. Cela commençait par toute la rustrerie, voici que cela finit par des anges de flamme et de glace.

Petite veille d’ivresse, sainte ! quand ce ne serait que pour le masque dont tu nous as gratifié. Nous t’affirmons, méthode ! Nous n’oublions pas que tu as glorifié hier chacun de nos âges. Nous avons foi au poison. Nous savons donner notre vie tout entière tous les jours.

Voici le temps des Assassins.

Metropolitano

Do estreito de índigo aos mares de Ossian, sobre a areia rosa e laranja lavada pelo céu vinoso, acabam de subir e de se cruzar bulevares de cristal habitados incontinenti por jovens famílias pobres que se alimentam junto aos fruteiros. Nada de rico. – A cidade.

Do deserto de betume fogem direto, em desordem com os lençóis de brumas escalonadas em faixas horrendas no céu que se recurva, recua e desce, formado pela mais sinistra fumaça negra que pôde fazer o Oceano em luto, os elmos, as rodas, os botes, as garupas. – A batalha!

Erga a cabeça: esta ponte de madeira, arqueada; as últimas hortas; estas máscaras coloridas sob a lanterna açoitada pela noite fria; a ondina tonta de vestido barulhento, no baixio do rio; estes crânios luminosos entre as ervilheiras – e as outras fantasmagorias. – O campo.

Estes caminhos bordeados por grades e muros, mal contendo seus matagais, e as atrozes flores que poderíamos chamar almas e irmãs, Damasco danado de langor, – posses de feéricas aristocracias ultra-renanas, japonesas, guaranis, prontas ainda a receber a música dos antigos – e há albergues que, para sempre, já não abrem mais; – há princesas, e, se você não estiver sobrecarregado demais, o estudo dos astros. – O céu.

Na manhã onde, com Ela, vocês se debatiam entre os fulgores da neve, aqueles lábios verdes, aqueles gelos, aquelas bandeiras negras e aqueles raios azuis, e aqueles perfumes púrpuras do sol dos polos. – Tua força.

Du détroit d’indigo aux mers d’Ossian, sur le sable rose et orange qu’a lavé le ciel vineux, viennent de monter et de se croiser des boulevards de cristal habités incontinent par de jeunes familles pauvres qui s’alimentent chez les fruitiers. Rien de riche. — La ville.

Du désert de bitume fuient droit, en déroute avec les nappes de brumes échelonnées en bandes affreuses au ciel qui se recourbe, se recule et descend formé de la plus sinistre fumée noire que puisse faire l’Océan en deuil, les casques, les roues, les barques, les croupes. — La bataille !

Lève la tête : ce pont de bois, arqué ; les derniers potagers ; ces masques enluminés sous la lanterne fouettée par la nuit froide ; l’ondine niaise à la robe bruyante, au bas de la rivière ; les crânes lumineux dans les plants de pois, — et les autres fantasmagories. — La campagne.

Ces routes bordées de grilles et de murs, contenant à peine leurs bosquets, et les atroces fleurs qu’on appellerait cœurs et sœurs, Damas damnant de longueur, — possessions de féeriques aristocraties ultra-rhénanes, Japonaises, Guaranies, propres encore à recevoir la musique des anciens — et il y a des auberges qui, pour toujours, n’ouvrent déjà plus ; — il y a des princesses, et si tu n’es pas trop accablé, l’étude des astres. — Le ciel.

Le matin où, avec Elle, vous vous débattîtes parmi ces éclats de neige, ces lèvres vertes, ces glaces, ces drapeaux noirs et les rayons bleus, et ces parfums pourpres
du soleil des pôles.
— Ta force.

Saldo

Vende-se aquilo que os judeus não venderam, aquilo que nem a nobreza nem o crime saborearam, aquilo que ignoram o amor maldito e a probidade infernal das massas; aquilo que nem o tempo nem a ciência hão de reconhecer:

As Vozes reconstituídas; o despertar fraternal de todas as energias corais e orquestrais e suas aplicações instantâneas; a ocasião, única, de libertar nossos sentidos.

Vende-se os Corpos sem preço, além de toda raça, de todo mundo, de todo sexo, de toda descendência! As riquezas jorrando a cada passo! Saldo de diamantes sem controle!

Vende-se a anarquia para as massas; a satisfação irreprimível para os amadores superiores; a morte atroz para os fiéis e os amantes!

Vende-se as habitações e as migrações, esportes, encantamentos e confortos perfeitos, e o barulho, o movimento e o futuro que eles fazem!

Vende-se as aplicações de cálculo e os saltos de harmonia inauditos! Os bons achados e os termos insuspeitados, entrega imediata,

Impulso insensato e infinito aos esplendores invisíveis, às delícias insensíveis, – e seus segredos enlouquecedores para cada vício – e sua alegria pavorosa para a multidão.

Vende-se os Corpos, as vozes, a imensa opulência inquestionável, aquilo que não se venderá jamais. Os vendedores não liquidaram seu estoque! Os viajantes não precisam render sua comissão tão cedo!

À vendre ce que les Juifs n’ont pas vendu, ce que noblesse ni crime n’ont goûté, ce qu’ignorent l’amour maudit et la probité infernale des masses, ce que
le temps ni la science n’ont
pas à reconnaître :

Les Voix reconstituées ; l’éveil fraternel de toutes les énergies chorales et orchestrales et leurs applications instantanées, l’occasion, unique, de dégager nos sens !

À vendre les Corps sans prix, hors de toute race, de tout monde, de tout sexe, de toute descendance ! Les richesses jaillissant à chaque démarche ! Solde de diamants sans contrôle !

À vendre l’anarchie pour les masses ; la satisfaction irrépressible pour les amateurs supérieurs ; la mort atroce pour les fidèles et les amants !

À vendre les habitations et les migrations, sports, féeries et comforts parfaits, et le bruit, le mouvement et l’avenir
qu’ils font !

À vendre les applications de calcul et les sauts d’harmonie inouïs ! Les trouvailles et les termes non soupçonnés, possession immédiate,

Élan insensé et infini aux splendeurs invisibles, aux délices insensibles, – et ses secrets affolants pour chaque vice – et sa gaîté effrayante pour la foule.

À vendre les Corps, les voix, l’immense opulence inquestionnable, ce qu’on ne vendra jamais. Les vendeurs ne sont pas à bout de solde ! Les voyageurs n’ont pas à rendre leur commission de si tôt !

Cidades

São cidades! É um povo para o qual se ergueram estes [montes] Allegheny e estes Líbanos de sonho! Chalés de cristal e de madeira que se movem sobre trilhos e polias invisíveis. As velhas crateras cingidas de colossos e de palmas de cobre rugem melodiosamente nos fogos. Festas amorosas soam sobre os canais pendurados atrás dos chalés. A caça dos carrilhões grita nas gargantas. Corporações de cantores gigantes acorrem em vestes e auriflamas resplandecentes como a luz dos cimos. Sobre as plataformas em meio às voragens os Orlandos soam a sua fúria. Sobre as passarelas do abismo e os telhados dos albergues o ardor do céu empavesa os mastros. O desmoronamento das apoteoses se junta aos campos das alturas onde as centauras seráficas evoluem entre as avalanches. Acima do nível das mais altas cristas, um mar atormentado pelo nascimento eterno de Vênus, carregado de vagas orfeônicas e do rumor das pérolas e de conchas preciosas, o mar se obscurece por vezes com lampejos mortais. Sobre as vertentes, messes de flores grandes como nossas armas e nossas copas, mugem. Cortejos de [Rainhas] Mabs em vestidos ruivos, opalinos, sobem as ravinas. Lá em cima, os pés na cascata entre as amoras, os cervos mamam Diana. As Bacantes dos subúrbios soluçam e a lua queima e urra. Vênus entra nas cavernas dos forjadores e dos eremitas. Grupos de campanários cantam as ideias dos povos. De castelos construídos em osso sai a música desconhecida. Todas as lendas evoluem e os impulsos se precipitam nos burgos. O paraíso das tempestades colapsa. Os selvagens dançam sem cessar a Festa da Noite. E, uma hora, eu desci no movimento de um bulevar de Bagdá onde companhias cantaram o gozo do trabalho novo, sob uma brisa espessa, circulando sem poder eludir os fabulosos fantasmas dos montes onde deveríamos nos reencontrar.

Que bons braços, que boa hora me restituirão esta região de onde vêm meus sonos e meus menores movimentos?

Ce sont des villes ! C’est un peuple pour qui se sont montés ces Alleghanys et ces Libans de rêve ! Des chalets de cristal et de bois qui se meuvent sur des rails et des poulies invisibles. Les vieux cratères ceints de colosses et de palmiers de cuivre rugissent mélodieusement dans les feux. Des fêtes amoureuses sonnent sur les canaux pendus derrière les chalets. La chasse des carillons crie dans les gorges. Des corporations de chanteurs géants accourent dans des vêtements et des oriflammes éclatants comme la lumière des cimes. Sur les plates-formes au milieu des gouffres, les Rolands sonnent leur bravoure. Sur les passerelles de l’abîme et les toits des auberges l’ardeur du ciel pavoise les mâts. L’écroulement des apothéoses rejoint les champs des hauteurs où les centauresses séraphiques évoluent parmi les avalanches. Au-dessus du niveau des plus hautes crêtes, une mer troublée par la naissance éternelle de Vénus, chargée de flottes orphéoniques et de la rumeur des perles et des conques précieuses, la mer s’assombrit parfois avec des éclats mortels. Sur les versants, des moissons de fleurs grandes comme nos armes et nos coupes, mugissent. Des cortèges de Mabs en robes rousses, opalines, montent des ravines. Là-haut, les pieds dans la cascade et les ronces, les cerfs tètent Diane. Les Bacchantes des banlieues sanglotent et la lune brûle et hurle. Vénus entre dans les cavernes des forgerons et des ermites. Des groupes de beffrois chantent les idées des peuples. Des châteaux bâtis en os sort la musique inconnue. Toutes les légendes évoluent et les élans se ruent dans les bourgs. Le paradis des orages s’effondre. Les sauvages dansent sans cesse la Fête de la Nuit. Et, une heure, je suis descendu dans le mouvement d’un boulevard de Bagdad où des compagnies ont chanté la joie du travail nouveau, sous une brise épaisse, circulant sans pouvoir éluder les fabuleux fantômes des monts où l’on a dû se retrouver.

Quels bons bras, quelle belle heure me rendront cette région d’où viennent mes sommeils et mes moindres mouvements ?