Como se escolhe o Vice-Rei de um novo Mundo, ou: As linhas tortas do livro de Deus

Cena VI da Primeira Jornada de O Sapato de Cetim, ou: O pior nem sempre é certo – Tragédia Espanhola em Quatro Jornadas. De Paul Claudel, Paris, 1924.

“A cena deste drama”, diz o seu prólogo, “é o mundo e mais especialmente a Espanha no fim do XVIo século, a menos que não seja no começo do XVIIo século. O autor se permitiu comprimir os países e épocas, assim como a uma dada distância diversas linhas de montanhas separadas não são mais do que um único horizonte.”

Retornando de uma expedição na América, o barco de Don Rodrigo de Manacor é arremessado por uma borrasca na costa africana. Lá ele conhece Doña Prouhèze, vulgo Doña Maravilha. Os dois são fulminados por um amor que, contudo, não podem consumar sem ofensa mortal à lei dos homens e à Lei de Deus, já que Prouhèze, desde que chegou menina da província de Franche-Comté, na França, foi dada em casamento ao velho Don Pelágio, o Terrível Juiz de Sua Majestade.

Agora os três estão na Espanha. Don Pelágio faz preparativos para retornar com sua esposa ao seu posto na África, onde seu primeiro tenente, o pérfido meio-mouro Don Camilo, anseia possuí-la. Prouhèze envia através de uma cigana uma carta a Rodrigo, pedindo que a encontre em Barcelona antes do embarque. A cena se desloca então para Belém em Portugal, numa grande sala do palácio que domina o Tejo, onde o Rei – Carlos Vo, a menos que não seja Felipe IIo – está acompanhado de seu Chanceler e todo entourage de corte.

O REI
       Caro Chanceler, o senhor que tem os cabelos brancos enquanto os meus ainda mal se agrisalham,
       Não se diz que a juventude é o tempo das ilusões,
       Ao passo que a velhice pouco a pouco
       Entra na realidade das coisas tais quais elas são?
       Uma realidade bastante triste, um mundinho descolorido que vai se retraindo.

O CHANCELER
       É isso que os anciãos sempre me ensinaram a repetir.

O REI
       Eles dizem que o mundo é triste pra quem vê claro?

O CHANCELER
       Não o posso negar contra todos.

O REI
       É a velhice quem tem o olho claro?

O CHANCELER
       É ela quem tem o olho exercitado.

O REI
       Exercitado a não mais ver o que lhe é
útil.

O CHANCELER
       A ela e ao seu pequeno reino.

O REI
       O meu é grande! sim, e quão grande seja, meu coração que o reúne
       Nega a toda fronteira o direito de o parar, a tal ponto que o próprio Mar,
este vasto Oceano aos meus pés,
       Longe de lhe impor limites não fazia senão reservar novos domínios ao meu desejo demasiado tardo!
       E quereria encontrá-la enfim, esta
coisa sobre a qual teriam o direito de dizer
ao Rei da Espanha que não foi feita pra ele.
       Triste? Como dizer sem impiedade
que a verdade destas coisas que são
a obra de um Deus excelente
       É triste? e sem cair no absurdo de
que o mundo, feito à Sua semelhança
e à Sua emulação
       É menor do que nós mesmos e deixa a maior parte da nossa imaginação sem
suporte?
       E digo com efeito que a juventude é o tempo das ilusões, mas é porque ela imagina as coisas infinitamente menos
belas e numerosas e desejáveis do que
são, e desta decepção somos curados
com a idade.
       Assim este mar onde o sol se deita, a extensão cintilante,
       Aí onde os poetas viam se precipitar a cada noite a impossível atrelagem em meio às sardinhas de não sei qual deus ridículo,
a ourivesaria de Apolo,
       O olho audacioso de meus predecessores sobre ele, o dedo deles
       Designou imperiosamente a outra margem, um outro mundo.
       Agora mesmo, um de seus servidores singra rumo ao Sul, redescobre o Cham,
ele dobra o detestado Cabo,
       Ele bebe no Ganges! através de inúmeras passagens deformes ele atraca
na China, é dele este imenso emaranhado de sedas e de palmas e de corpos nus,
       Todos estes cardumes palpitantes de desova humana, mais populosos que os mortos e que aguardam o batismo;
       O outro…

O CHANCELER
       Nosso grande Almirante!

O REI
       Para ele, há qualquer coisa de
absolutamente nova que lhe surgiu à proa
do seu barco, um mundo de fogo e de neve
ao encontro das nossas insígnias
destacando uma esquadra de vulcões!
       A América, como uma imensa cornucópia, falo daquele cálice de silêncio, este fragmento de uma estrela, este enorme quarteirão do paraíso, o flanco reclinado através de um oceano de delícias!
       Ah! que o céu me perdoe! mas quando em dias como hoje, às margens deste estuário, vejo o sol me convidar com um longo tapete desenrolado a estas regiões que me são eternamente disjuntas,
       A Espanha, esta esposa da qual porto
o anel, me é pouco ao lado daquela
escrava escura, daquela fêmea com
o flanco de cobre que acorrentam para
mim lá longe nas regiões da noite!
       Graças a ti, filho da Pomba, meu Reino se fez semelhante ao coração do homem:
       Enquanto uma parte aqui acompanha sua presença corporal, a outra encontrou sua morada além-mar;
       Ele lançou suas âncoras para sempre nesta parte do mundo que iluminam outras estrelas.
       Não poderia se enganar aquele que toma o sol por guia!
       E esta praia do mundo que os estudiosos de outrora abandonaram à
ilusão e à loucura,
       É dela agora que meu Erário extrai o ouro vital que anima aqui toda a máquina
do Estado, e que impulsiona por todas
as partes mais densas que a grama da
primavera as lanças de meus esquadrões!
       O mar perdeu seus terrores para nós
e não conserva senão suas maravilhas;
       Sim, suas vagas movediças não
bastam pra importunar a grande rota de
ouro que religa uma e outra Castela
       Por onde se afanam indo e vindo a dupla fila de meus pressurosos barcos
       Que me levam lá pra baixo meus
padres e meus guerreiros e me trazem
estes tesouros pagãos paridos pelo sol
       Que no cume do seu curso entre
os dois Oceanos
       Mantém-se imóvel um momento em uma solene hesitação!

O CHANCELER
       O Reino que Seus servidores de
ontem adquiriram à Vossa Majestade,
       A tarefa daqueles de hoje é de o abrir
e de o conservar.

O REI
       Verdade, mas há algum tempo não recebo de lá senão notícias funestas:
       Pilhagens, ataques de piratas, extorsões, injustiças, extermínio de populações
inocentes,
       E o que é ainda mais grave, furor de meus capitães que retalham para si
pedaços de minha terra e se dilaceram
uns aos outros,
       Como se tivesse sido para esta nuvem de mosquitos sanguinários e não exclusivamente para o Rei, à sombra da Cruz pacífica,
       Que Deus fez surgir um mundo do seio das Águas!

O CHANCELER
       Quando os gatos saem, os ratos
fazem a festa.

O REI
       Não posso estar ao mesmo tempo
na Espanha e nas Índias.

O CHANCELER
       Que um homem seja lá a pessoa de Vossa Majestade, acima de
todos Um Só, revestido do mesmo poder.

O REI
       E quem escolheremos nós para ser lá Nós mesmos?

O CHANCELER
       Um homem razoável e justo.

O REI
       Quando os vulcões de minha América forem extintos, quando seus flancos palpitantes forem exauridos, quando ela repousar deste imenso esforço que a tirou do nada toda ardente e efervescente,
       Então a entregarei à regência de um homem razoável e justo!
       O homem em quem me reconheço e que é feito pra me representar não é um sábio e um justo, que me seja dado um homem ciumento e ávido!
       De que me serve um homem razoável
e justo, acaso é para ele que arrancarei
de mim aquela América e aquelas Índias prodigiosas no sol poente, se ele não a
ama com aquele amor injusto e ciumento?
       Será acaso na razão e na justiça que
ele esposará aquela terra selvagem e
cruel, e que a tomará toda escorregadia
entre seus braços, plena de relutância
e de veneno?
       Eu digo que é na paciência e na paixão e na batalha e na fé pura! pois qual homem sensato não preferiria aquilo que conhece àquilo que ele não conhece e o campo de seu pai a este berçário caótico?
       Mas aquele que quero, quando passou sob o limiar que nenhum homem antes dele atravessou,
       Num só clarão soube que é dele, e que aquela serra toda azul há muito tempo se erguia no horizonte de sua alma; não há nada, neste mapa que se desenrola sob seus pés, que ele não reconheça e que não lhe terei dado antecipadamente por escrito.
       Para ele a viagem não tem quaisquer distâncias e o deserto nenhum tédio, e é desde já povoado de cidades que ele estabelecerá;
       E na guerra não há riscos, e a política
é simples, ele só se surpreende com
todas estas resistências frívolas.
       E assim eu, quando esposei a Espanha, não o fiz para gozar dos seus frutos e das suas mulheres à maneira de um bandido,
       Nem da tosa de suas ovelhas, nem das minas em suas profundezas, nem das
bolsas de ouro que os comerciantes
derramam na alfândega, à maneira de um
rentista e de um proprietário.
       Mas foi pra lhe conferir a inteligência
e a unidade, e para senti-la toda viva e obediente e compreendida em minha
mão, e eu como a cabeça, que sozinha
compreende aquilo que faz a pessoa inteira.
       Pois não é o espírito que está no corpo, é o espírito que contém o corpo, e que o envolve por inteiro.

O CHANCELER
       Eu não conheço senão um homem que responde ao desejo de Vossa Majestade.
Ele se chama Don Rodrigo de Manacor.

O REI
       Não gosto dele.

O CHANCELER
       Sei que a obediência lhe desce mal. Mas o homem que o senhor me pede não pode ser feito senão com aquele material que faz um Rei.

O REI
       Ele ainda é jovem demais.

O CHANCELER
       Esta América que Vossa Majestade
lhe dará é só um pouco mais velha que ele.
       Ainda menino ela já era uma visão prodigiosa para ele enquanto
acompanhava seu pai que lhe contava
sobre Cortez e Balboa.
       E mais tarde suas passagens através dos Andes, sua descida não como Magalhães sobre o mar sem obstáculos,
       Mas do Peru ao Pará através de um oceano de folhagens,
       Seu governo de Granada devastada pela sedição e pela peste
       Mostraram quem é Rodrigo, seu
servidor.

O REI
       Eu consinto a Rodrigo. Que ele venha!

O CHANCELER
       Sire, eu não sei onde ele está. Eu já lhe havia dito que a América viria a requerê-lo novamente,
       Ele me escutou com um olho sombrio sem replicar.
       E no dia seguinte desapareceu.

O REI
       Que o tragam à força!

*

LE ROI
       Seigneur Chancelier, vous qui avez le poil blanc alors que le mien ne fait encore que grisonner,
       Ne dit-on pas que la jeunesse est le temps des illusions,
       Alors que la vieillesse peu à peu
       Entre dans la réalité des choses telles qu’elles sont?
       Une réalité fort triste, un petit monde décoloré qui va se rétrécissant.

LE СHANCELIER
       C’est ce que les anciens moi-même m’ont toujours instruit à répéter.

LE ROI
       Ils disent que le monde est triste pour qui voit clair ?

LE СHANCELIER
       Je ne puis le nier contre tous.

LE ROI
       C’est la vieillesse qui a l’oeil clair?

LE СHANCELIER
       C’est elle qui a l’oeil exercé.

LE ROI
       Exercé à ne plus voir ce qui lui est
utile.

LE CHANCELIER
       A elle et à son petit royaume.

LE ROI
       Le mien est grand! oui, et si grand qu’il soit, mon coeur qui le réunit
       Dénie à toute frontière le droit de l’arrêter, alors que la Mer même, ce vaste Océan à mes pieds,
       Loin de lui imposer des limites ne faisait que réserver de nouveaux domaines à mon désir trop tardif!
       Et je voudrais la trouver enfin, cette chose dont vous auriez le droit de dire au Roi d’Espagne qu’elle n’était pas pour lui.
       Triste? Comment dire sans impiété que la vérité de ces choses qui sont l’oeuvre d’un Dieu excellent
       Est triste? et sans absurdité que le monde qui est à sa ressemblance et à son
émulation
       Est plus petit que nous-mêmes et laisse la plus grande part de notre imagination sans support?
       Et je dis en effet que la jeunesse est le temps des illusions, mais c’est parce qu’elle imaginait les choses infiniment moins belles et nombreuses et désirables qu’elles ne sont et de cette déception nous sommes guéris avec
l’âge.
       Ainsi cette mer où le soleil se couche, la miroitante étendue,
       Là où les poëtes voyaient se précipiter chaque soir l’impossible attelage au milieu des sardines de je ne sais quel dieu ridicule, l’orfèvrerie d’Apollon,
       L’oeil audacieux de mes prédécesseurs par-dessus elle, leur doigt
       Désignait impérieusement l’autre bord, un autre monde.
       Et déjà l’un de leurs serviteurs cingle
vers le Sud, il retrouve Cham,
il double le Cap détesté,
       Il boit au Gange! à travers maints passages difformes il atterrit à la Chine, c’est à lui cet immense remuement de soies et de palmes et de corps nus,
       Tous ces bancs palpitants de frai humain, plus populeux que les morts et qui attendent le baptême;
       L’autre…

LE CHANCELIER
       Notre grand Amiral!

LE ROI
       Lui, c’est quelque chose d’absolument neuf qui lui surgit à la proue de son bateau, un monde de feu et de neige à la rencontre de nos enseignes détachant une escadre
de volcans!
       L’Amérique, comme une immense corne d’abondance, je dis ce calice de silence, ce fragment d’étoile, cet énorme quartier du paradis, le flanc penché au travers d’un océan de délices!
       Ah! que le ciel me pardonne mais quand parfois comme aujourd’hui, des bords de cet estuaire, je vois le soleil m’inviter d’un long tapis déroulé à ces régions qui me sont éternellement disjointes,
       L’Espagne, cette épouse dont je porte l’anneau, m’est peu à côté de cette esclave sombre, de cette femelle au flanc de cuivre qu’on enchaîne pour moi là-bas dans les régions de la nuit!
Grâce à toi, fils de la Colombe, mon Royaume est devenu semblable au coeur de l’homme :
       Alors qu’une part ici accompagne sa présence corporelle, l’autre a trouvé sa demeure outre la mer;
       Il a mouillé ses ancres pour toujours en cette part du monde qu’éclairent d’autres
étoiles.
       Celui-là ne pouvait se tromper qui prend le soleil pour guide!
       Et cette plage du monde que les savants jadis abandonnaient à l’illusion et à
la folie,
       C’est d’elle maintenant que mon Échiquier tire l’or vital qui anime ici toute la machine de l’Etat, et qui, fait pousser de toutes parts plus dru que l’herbe en mai les lances
de mes escadrons!
       La mer a perdu ses terreurs pour nous et ne conserve que ses merveilles;
       Oui, ses flots mouvants suffisent mal à déranger la large route d’or qui relie l’une et l’autre Castille
       Par où se hâtent allant et revenant la double file de mes bateaux à la peine
       Qui me portent là-bas mes prêtres et mes guerriers et me rapportent ces trésors païens enfantés par le soleil
       Qui au sommet de sa course entre les deux Océans
       Se tient immobile un moment en une solennelle hésitation!

LE CHANCELIER
       Le Royaume que Ses serviteurs d’hier ont acquis à Votre Majesté,
       La tâche de ceux d’aujourd’hui est de l’ouvrir et de le conserver.

LE ROI
       Il est vrai, mais depuis quelque temps je ne reçois de là-bas que nouvelles funestes :
       Pillages, descentes de pirates, extorsions, injustices, extermination des peuples
innocents,
       Et ce qui est plus grave encore, fureur de mes capitaines qui se taillent part pour eux de ma terre et se déchirent l’un
contre l’autre,
       Comme si c’était pour cette nuée de moustiques sanguinaires et non pas pour
le roi seul à l’ombre de la Croix pacifique
       Que Dieu ait fait surgir un monde du sein des Eaux!

LE CHANCELIER
       Où le maître n’est pas, les muletiers se gourment.

LE ROI
       Je ne puis être à la fois en Espagne et aux Indes.

LE CHANCELIER
       Qu’un homme soit là-bas la personne de Votre Majesté, au-dessus de tous Un seul, revêtu du même pouvoir.

LE ROI
       Et qui choisirons-nous pour être là-bas Nous-même.

LE CHANCELIER
       Un homme raisonnable et juste.

LE ROI
       Quand les volcans de mon Amérique se seront éteints, quand ses flancs palpitants seront épuisés, quand elle se sera reposée de l’immense effort qui vient de la faire sortir du néant toute brûlante et bouillonnante,
       Alors je lui donnerai pour la régir un homme raisonnable et juste!
       L’homme en qui je me reconnais et qui est fait pour me représenter n’est pas un sage et un juste, qu’on me donne un homme jaloux et avide!
       Qu’ai-je à faire d’un homme raisonnable et juste, est-ce pour lui que je m’arracherai cette Amérique et ces Indes prodigieuses dans le soleil couchant, s’il ne l’aime de cet amour injuste et jaloux ?
       Est-ce dans la raison et la justice qu’il épousera cette terre sauvage et cruelle,
et qu’il la prendra toute glissante
entre ses bras, pleine de refus et
de poison?
       Je dis que c’est dans la patience et la passion et la bataille et la foi pure car quel homme sensé ne préférerait ce qu’il connaît à ce qu’il ne connaît pas et le champ de son père à cette pépinière chaotique?
       Mais celui que je veux, quand il a passé ce seuil que nul homme avant lui
n’a traversé,
       D’un seul éclair il a su que c’est à lui, et cette sierra toute bleue il y a longtemps qu’elle se dressait à l’horizon de son âme; il n’y a rien, dans cette carte sous ses pieds qui se déploie, qu’il ne reconnaisse et que d’avance je ne lui aie donné par écrit.
       Pour lui le voyage n’a point de longueurs et le désert point d’ennuis, il est déjà tout peuplé des villes qu’il y établira;
       Et la guerre point de hasards, et la politique est simple, il est seulement surpris de toutes ces résistances frivoles.
       Et de même quand j’ai épousé l’Espagne, ce n’était pas pour jouir de ses fruits et de ses femmes à la manière d’un brigand,
       Et de la toison de ses brebis, et
des mines dans sa profondeur, et des
sacs d’or que les marchands versent
à la douane, à la manière d’un
rentier et d’un propriétaire.
       Mais c’était pour lui fournir l’intelligence et l’unité, et pour la sentir tout entière vivante et obéissante et comprenante sous ma main, et moi à la manière de la tête qui seule comprend ce qui fait toute la personne,
       Car ce n’est pas l’esprit qui est dans le corps, c’est l’esprit qui contient le corps, et qui l’enveloppe tout entier.

LE CHANCELIER
       Je ne connais qu’un homme qui réponde au désir de Votre Majesté. Il s’appelle Don Rodrigue de Manacor.

LE ROI
       Je ne l’aime pas.

LE CHANCELIER
       Je sais que l’obéissance lui va mal.
Mais l’homme que vous me demandez
ne peut être fait autrement qu’avec
de l’étoffe de Roi.

LE ROI
       Il est trop jeune encore.

LE CHANCELIER
       Cette Amérique que vous allez lui donner l’est moins à peine que lui.
       Il était tout enfant que déjà elle était
sa vision prodigieuse quand il
accompagnait son père qui lui
racontait Cortez et Balboa.
       Et plus tard ses passages à travers les Andes, sa descente non point comme Magellan sur la mer sans obstacles,
       Mais du Pérou au Para au travers d’un océan de feuillages,
       Son gouvernement de Grenade ravagée par la sédition et la peste
       Ont montré qui était Rodrigue, votre serviteur.

LE ROI
       Je consens à Rodrigue. Qu’il vienne!

LE CHANCELIER
       Sire, je ne sais où il est. Déjà je lui avais fait comprendre que l’Amérique de nouveau allait le requérir.
       Il m’a écouté d’un oeil sombre sans répliquer.
       Et le lendemain il avait disparu.

LE ROI
       Qu’on me l’amène de force!

*