À linda madonna loira Laura lira, louro, lírio, auréola e ouro

(ou: Um raminho de oliveira à minha mãe, mulher e filha)

5 cantos do Canzoniere ou Fragmentos de composições em vulgar de Francesco Petrarca, poeta laureado. A Laura de Noves, viva e morta. Florença, entre 1336 e 1374 depois de Cristo.

I

Vós que escutais em rimas soltas a canção
dos suspiros onde eu nutria meu ardor
no primo errar da juventude em flor,
quando eu era em parte um outro varão,

do vário estilo do meu pranto e razão,
entre as vãs esperanças e a vã dor,
onde houver quem por prova entenda o amor,
espero achar piedade, não só perdão.

Mas bem vejo ora como ao povo bruto
fabulação fui por tempo, e mormente
de mim comigo mesmo me envergonho;

e do meu vaguejar vergonha é o fruto,
e arrepender-se, e conhecer claramente
que o que apraz ao mundo é breve sonho.

 

II

Só, pesaroso, o campo mais deserto
vou mensurando a passo tardo e lento,
e o olhar porto para fugir atento
ao vestígio humano no barro incerto.

Outro escudo não encontro por perto
contra o manifesto perceber da gente,
porque no gesto de alegria apagado
de fora me leem a alma ardente;

tanto que eu creio que montes e rios,
selvas e praias sabem de que têmpera ora
é minha vida, doutros ao abrigo.

Mas tão acres caminhos nem tão bravios
buscar não sei, onde o Amor a toda hora
não me fale e eu a ele, e ele comigo.

 

III

Quando o suave meu fiado conforto
a pousar-me a vida lassa em paz franca,
põe-se em meu leito à esquerda anca,
em seu doce e sagaz falar absorto,
com piedade, medo e um palor morto
digo: “Donde vens tu ora, ó feliz alma?”
Um raminho de palma
e um de louro do belo seio sereno
tira e diz: “Do pleno
céu empíreo e daquela santa parte
me movi e venho só pra consolar-te”.

Agradeço com falas e gestos que faço
e humilde digo: “Rogo que me respondas
como sabes minha dor? “ E ela: “As tristes ondas
do teu pranto que não conhece cansaço,
aquela aura de suspiro, por todo espaço
passam até o céu e turbam a minha paz;
o tão pouco que te apraz
que da miséria tenha sido colhida
junto à melhor vida,
aprazer-te devia, se tanto me amaste
quanto em teu semblante e dizer mostraste”.

Respondo: “Eu choro só por mim que permaneço
nestas trevas e martírio a me afligir,
certo sempre do teu ao céu subir
como coisa à qual o olho tem acesso.
Como Deus e natureza com tanto excesso
poriam num coração jovem tal virtude,
se a eterna saúde
não fosse destinada ao teu bem fazer,
ó raríssimo ser,
que altamente viveste entre nós
e subitamente ao céu voaste a sós?

Mas eu que mais farei senão chorar por eras,
se mísera, só, minh’alma sem ti é nada?
Ah, se no berço tivesse sido abortada,
sem provar a forja do amor nestas esperas!”
E ela: “Por que então choras e te destemperas?
Quando alçar asas da terra vale tão mais,
e as coisas mortais
e tua baboseira falaz e mansa
librar com justa balança
e seguir-me, se me amas tanto assim,
colhendo algum destes ramos de mim!”

“Queria indagar” respondi eu na hora
“que querem dizer aqueles dois frondes?”
E ela: “Tu mesmo te respondes,
tu cuja pena a uma dama honora:
palma é vitória, e ainda jovem outrora
venci ao mundo e a mim mesma; o louro significa
triunfo, e me dignifica
mercê daquele Senhor que me deu força.
E pra que ninguém te distorça,
a ele te voltes, a ele peças recurso,
e estaremos juntos ao fim do teu curso”.

“Se estes cabelos louros e o áureo laço”
disse eu “me restringe, e aqueles olhos gentis
que foram meu sol? “ “Não creias como os imbecis,
nem erres” disse “ou sigas seu passo:
espírito nu sou, no céu me satisfaço;
aquilo que buscas é terra há muitos anos;
mas pra tirar-te aos afanos
me é dado parecer tal; ainda aquela
serei, mais que nunca bela,
a ti mais cara, tão selvagem e pia,
salvando a minha e a tua alegria”.

Eu choro; e ela o rosto
com suas mãos me enxuga, depois suspira
docemente, então se ira
arrebentando pedras com tanto entono:
e depois disto parte ela, e o sono.

 

IV

Clara, fresca e doce água
onde um belo membro
pôs ela que de per si doou-se me una;
gentil ramo sem mágoa
(com suspiro me lembro)
que serviu a seu bel flanco de coluna;
relva e flor que de fortuna
cobriu sua leve veste
com o seio divino;
ar santo cristalino
onde o Amor abriu meu peito com olhar celeste:
vinde ouvir meu poema
a dolente minha palavra extrema.

Se me ditar o Fado sereno,
que o céu sobre isso se dobre,
e o Amor a luz dos olhos lagrimosos dilua,
alguma graça o obsceno
corpo entre vós recobre
e torne a alma ao próprio abrigo nua;
a morte será menos crua
se esta espera porto
àquele duvidoso passo,
pois o espírito lasso
não poderia jamais em tão repousado porto
nem em tão tranquilo fosso
fugir à carne tribulada e ao osso.

Tempo há de vir talvez
que neste pouso de retorno
virá a fera bela e mansueta,
e onde me viu com lucidez
no dia doce e morno
volte a vista desejosa e dileta
pra me ver; e ó piedade neta!
já entre as pedras o pó
vendo, o Amor lhe inspire
e que assim suspire
tão docemente que me impetre sua dó,
e faça força ao céu
enxugando-se os olhos com o belo véu.

De belos ramos descia
(doce na memória)
uma chuva de flor sobre o seu seio;
e ela se estendia
humilde em tanta glória,
já imersa no amoroso veio;
qual flor caía no véu alheio,
qual na mecha reluzente
tal ouro limpo e pérola
flamulando igual marola;
qual pousava na terra, qual n’água fluente,
qual com errante langor
girando parecia dizer: “Aqui reina o Amor”.

Quantas vezes repeti
pleno de deslumbramento:
“Esta decerto nasceu no paraíso!”
Pleno de oblívio vi
o mais divino alento
e o rosto e as palavras e o doce riso
me levavam, e tão diviso
da imagem vera,
que eu dizia suspirando:
“Aqui como vim eu ou quando?”
crendo que era o céu, não o que era.
Desde então me apraz
esta relva tanto que alhures não tenho paz.

Tivesses o que te ornamente a bel-prazer,
poderia atrevidamente
sair do bosque e ir entre a gente.

 

V

Virgem bela, que de sol vestida,
coroada d’estrelas, ao sumo Sol
aprazes tanto que em ti sua luz goza,
o amor me força a falar em teu prol;
mas não sei partir sem tua acolhida
e a Daquele que amando te fez esposa.
Invoco quem sempre responde generosa,
ao que clama com sede.
Virgem, se nada impede
que a miséria humana horrorosa
te volva, inclina-te à prece minha;
socorre minha guerra,
mesmo que eu seja terra, e tu do céu rainha.

Virgem sábia, dentre a grei feminina
uma das beatas virgens prudentes,
antes a prima, lume de mais claridade;
ó saldo escudo das aflitas gentes
contra golpes da nossa Morte e Sina,
sob o qual se triunfa, não só se evade;
ó refrigério ao cego ardor que arde
aqui entre mortais rústicos;
Virgem, teus olhos místicos
que viram tristes a marca da crueldade
nos doces membros do teu caro filho,
volta ao meu dúbio estado
que desauxiliado a ti vem por auxílio.

Virgem pura, em toda parte inteira,
do teu parto gentil mãe e filha,
que dá luz a esta vida e à outra adorno,
por ti o teu filho e aquele do Pai brilha,
ó janela do céu luzente altaneira,
e vem no dia extremo ser nosso retorno;
e dos lares e todo terrestre entorno
só tu foste eleita,
Virgem perfeita,
que teu gozo mate em Eva o transtorno.
Faz-me, pois podes, da sua graça digno,
sem fim abençoada,
já coroada no reino benigno.

Virgem santa, de toda graça plena,
que por vera e altíssima humildade
colhe minhas preces no céu onde subiste,
deste à luz a fonte de piedade
e de justiça o sol, que resserena
o século pleno de erro turvo e triste:
três doces e caros nomes em ti uniste,
mãe, filha e esposa,
Virgem gloriosa,
dama do Rei que a nós cativos assiste
e fez o mundo livre e feliz,
em sua santa chaga
meu peito, imploro, afaga, vera beatriz.

Virgem sozinha no mundo, sem exemplo,
pois o céu com tuas belezas enamoraste,
sem primeira similar, nem segunda,
teu pio pensar, a pureza com que amaste
ao vero Deus sagrado e vivo templo
fizeram em tua virgindade fecunda.
Por ti pode minha vida ser jucunda,
se em tuas preces, ó Maria,
Virgem doce e pia,
onde a falta abundou a graça abunda.
Que de joelhos minha mente se incline,
peço que me guies à porta
e minha torta via a bom fim determine.

Virgem clara e estável em eterno,
estrela que no mar tormentoso vela,
de todo fiel timoneiro fiada guia,
considera em que terrível procela
me encontro só, sem governo,
e já perto do fim em gritaria.
Porém em ti minh’alma se fia,
pecadora, eu não nego,
Virgem; mas a ti me pego
pra que teu inimigo do meu pecar não ria.
Lembra-te que por causa do nosso mal
Deus quis, pra nos salvar,
se encarnar em teu claustro virginal.

Virgem, quantas lágrimas versei aparte,
quanta lisonja e quanto rogo em vão,
só pra minha pena e pra meu grave dano!
Desde que nasci à beira do Arno varão,
buscando ou esta e ou aquela outra parte,
não foi minha vida mais que afano:
a mortal beleza, a fala e o gesto mundano
sobrecarregaram minh’alma.
Virgem sacra e calma,
não tardes, pois pode ser meu último ano:
e os meus, qual seta forte,
entre misérias e delitos
correm expeditos, só nos espera a morte.

Virgem, ela é terra, e na mágoa mergulhou
meu coração e o mantém em pranto vivendo,
e dos mil males meus nenhum sabia;
mas o que ocorreu, mesmo sabendo,
teria ocorrido, pois tudo mais que ansiou
foi a mim morte, e a ela desvalia.
Ora tu, Dama do céu, tu Deusa pia,
(se o dizer não é infenso)
Virgem d’alto senso,
tu vês o todo; e aquele que não podia
agir doutro modo, é nada à tua alta virtude,
põe fim à minha dor;
honra teu valor e sê minha saúde.

Virgem, a quem dou toda minha esperança
que possa e queira no grande apuro ajudar-me,
não me deixes só no último passo;
se não por mim, por quem se dignou a criar-me;
não meu valor, mas sua alta semelhança
em mim, te mova a cuidar de homem tão crasso.
Fizeram-me pedra Medusa e meu mau passo
que um vão humor decanta:
Virgem, que tua santa
lágrima e pia encha meu coração lasso,
seja ao menos o último pranto devoto,
sem terrestre limo
como foi o primo da insânia não remoto.

Virgem humana e inimiga do orgulho,
que te guie o amor ao que nos unifica:
misericórdia dum coração contrito, servil,
que se tão admirável fé dedica
a amar tão podre e mortal entulho,
que há de fazer de ti, coisa gentil?
Se do meu estado assaz mísero e vil
pela tua mão me curo,
Virgem, eu sagro e depuro
em ti meu pensar, estilo e gênio febril,
a língua, o coração, a lágrima e o suspiro:
guia-me ao vau honrado
e toma de grado o que ora aspiro.

O dia se apressa, e talvez seja hoje,
se corre o tempo e voa,
Virgem única e boa,
e o coração da consciência ou morte foge:
recomenda-me ao teu Filho, veraz
homem e veraz Deus,
que acolha o meu suspiro último em paz.

I

Voi ch’ascoltate in rime sparse il suono
di quei sospiri ond’io nudriva ‘l core
in sul mio primo giovenile errore,
quand’era in parte altr’uom da quel ch’ i’ sono,

del vario stile in ch’io piango e ragiono,
fra le vane speranze e ‘l van dolore,
ove sia chi per prova intenda amore,
spero trovar pietà, non che perdono.

Ma ben veggio or sí come al popol tutto
favola fui gran tempo, onde sovente
di me mesdesmo meco mi vergogno;

e del mio vaneggiar vergogna è ‘l frutto,
e ‘l pentersi, e ‘l conoscer chiaramente
che quanto piace al mondo è breve sogno.

 

II

Solo e pensoso i piú deserti campi
vo mesurando a passi tardi e lenti,
e gli occhi porto per fuggire intenti
ove vestigio uman l’arena stampi.

Altro schermo non trovo che mi scampi
dal manifesto accorger de le genti,
perché negli atti d’alegrezza spenti
di fuor si legge com’io dentro avampi;

sí ch’io mi credo omai che monti e piagge
e fiumi e selve sappian di che tempre
sia la mia vita, ch’è celata altrui.

Ma pur sí aspre vie né sí selvagge
cercar non so, ch’ Amor non venga sempre
ragionando con meco, ed io co lui.

 

III

Quando il soave mio fido conforto,
per dar riposo a la mia vita stanca,
ponsi del letto in su la sponda manca
con quel suo dolce ragionare accorto,
tutto di pietà e di paura smorto
dico: « Onde vien tu ora, o felice alma? »
Un ramoscel di palma
ed un di lauro trae del suo bel seno
e dice: « Dal sereno
ciel empireo e di quelle sante parti
mi mossi e vengo sol per consolarti ».

In atto ed in parole la ringrazio
umilemente e poi demando: « Or donde
sai tu il mio stato? » Ed ella: « Le triste onde
del pianto di che mai tu non se’ sazio,
coll’aura de’ sospir’, per tanto spazio
passano al cielo e turban la mia pace;
sí forte ti dispiace
che di questa miseria sia partita
e giunta a miglior vita;
che piacer ti devria, se tu m’ amasti
quanto in sembianti e ne’ tuoi dir’ mostrasti ».

Rispondo: « Io non piango altro che me stesso
che son rimaso in tenebre e ‘n martíre,
certo sempre del tuo al ciel salire
come di cosa ch’ uom vede da presso.
Come Dio e natura avrebben messo
in un cor giovenil tanta vertute,
se l’eterna salute
non fusse destinata al tuo ben fare,
o de l’ anime rare,
ch’ altamente vivesti qui tra noi
e che súbito al ciel volasti poi?

Ma io che debbo altro che pianger sempre,
misero e sol, che senza te son nulla?
Ch’ or fuss’ io spento al latte ed a la culla,
per non provar de l’ amorose tempre! »
Ed ella: « A che pur piangi e ti distempre?
Quanto era meglio alzar da terra l’ ali,
e le cose mortali
e queste dolci tue fallaci ciance
librar con giusta lance
e seguir me, s’ è ver che tanto m’ ami,
cogliendo omai qualcun di questi rami! »

« I’ volea demandar » respond’ io allora
« che voglion importar quelle due frondi? »
Ed ella: « Tu medesmo ti rispondi,
tu la cui non penna tanto l’ una onora:
palma è vittoria, ed io, giovene ancora,
vinsi il mondo e me stessa; il lauro segna
triunfo, ond’ io son degna
mercé di quel Signor che mi diè forza.
Or tu, s’ altri ti sforza,
a lui ti volgi, a lui chiedi soccorso,
sí che siam seco al fine del tuo corso ».

« Son questi i capei biondi e l’ aureo nodo »
dich’ io « ch’ ancor mi stringe, e quei belli occhi
che fur mio sol? » « Non errar con li sciocchi,
né parlar » dice « o creder a lor modo:
spirito ignudo sono, e ‘n ciel mi godo;
quel che tu cerchi è terra già molt’ anni;
ma per trarti d’ affanni
m’ è dato a parer tale; ed ancor quella
sarò, piú che mai bella,
a te piú cara, sí selvaggia e pia,
salvando inseme tua salute e mia ».

I’ piango; ed ella il volto
co le sue man’ m’ asciuga, e poi sospira
dolcemente, e s’ adira
con parole che i sassi romper ponno:
e dopo questo si parte ella, e ‘l sonno.

 

IV

Chiare, fresche e dolci acque
ove le belle membra
pose colei che sola a me par donna;
gentil ramo ove piacque
(con sospir mi rimembra)
a lei di fare al bel fianco colonna;
erba e fior che la gonna
leggiadra ricoverse
co l’angelico seno;
aere sacro sereno
ove Amor co’ begli occhi il cor m’ aperse:
date udienza insieme
a le dolenti mie parole estreme.

S’ egli è pur mio destino,
e ‘l cielo in ciò s’ adopra,
ch’ Amor quest’ occhi lagrimando chiuda,
qualche grazia il meschino
corpo fra voi ricopra
e torni l’ alma al proprio albergo ignuda;
la morte fia men cruda
se questa spene porto
a quel dubbioso passo,
ché lo spirito lasso
non poria mai in piú riposato porto
né in piú tranquilla fossa
fuggir la carne travagliata e l’ossa.

Tempo verrà ancor forse
ch’ a l’ usato soggiorno
torni la fera bella e mansueta,
e là ‘v’ ella mi scorse
nel benedetto giorno
volga la vista disiosa e lieta,
cercandomi; ed o pietà!
già terra infra le pietre
vedendo, Amor l’inspiri
in guisa che sospiri
sí dolcemente che mercé m’ impetre,
e faccia forza al cielo
asciugandosi gli occhi col bel velo.

Da’ be’ rami scendea
(dolce ne la memoria)
una pioggia di fior sovra ‘l suo grembo;
ed ella si sedea
umile in tanta gloria,
coverta già de l’ amoroso nembo;
qual fior cadea sul lembo,
qual su le treccie bionde,
ch’ oro forbito e perle
eran quel dí a vederle;
qual si posava in terra e qual su l’ onde,
qual con un vago errore
girando parea dir: « Qui regna Amore ».

Quante volte diss’ io
allor pien di spavento:
« Costei per fermo nacque in paradiso! »
Cosí carco d’oblio
il divin portamento
e ‘l volto e le parole e ‘l dolce riso
m’ aveano, e sí diviso
da l’ imagine vera,
ch’ i’ dicea sospirando:
« Qui come venn’ io o quando? »
credendo esser in ciel, non là dov’ era.
Da indi in qua mi piace
quest’erba sí ch’ altrove non ò pace.

Se tu avessi ornamenti quant’ ài voglia,
poresti arditamente
uscir del bosco e gir infra la gente.

 

V

Vergin bella, che di sol vestita,
coronata di stelle, al sommo Sole
piacesti sí che ‘n te sua luce ascose,
amor mi spinge a dir di te parole;
ma non so ‘ncominciar senza tu’ aita
e di Colui ch’ amando in te si pose.
Invoco lei che ben sempre rispose,
chi la chiamò con fede.
Vergine, s’ a mercede
miseria estrema de l’ umane cose
già mai ti volse, al mio prego t’ inchina;
soccorri a la mia guerra,
ben ch’ i’ sia terra, e tu del ciel regina.

Vergine saggia, e del bel numero una
de le beate vergini prudenti,
anzi la prima, e con piú chiara lampa;
o saldo scudo de l’afflitte genti
contra colpi di Morte e di Fortuna,
sotto ‘l qual si triunfa, non pur scampa;
o refrigerio al cieco ardor ch’ avampa
qui fra i mortali sciocchi;
Vergine, que’ belli occhi
che vider tristi la spietata stampa
ne’ dolci membri del tuo caro figlio,
volgi al mio dubio stato
che sconsigliato a te ven per consiglio.

Vergine pura, d’ ogni parte intera,
del tuo parto gentil figliola e madre,
ch’ allumi questa vita e l’altra adorni,
per te il tuo figlio e quel del sommo Padre,
o fenestra del ciel lucente altera,
venne a salvarne in su li estremi giorni;
e fra tutti terreni altri soggiorni
sola tu fosti eletta,
Vergine benedetta,
che ‘l pianto d’ Eva in allegrezza torni.
Fammi, ché puoi, de la sua grazia degno,
senza fine o beata,
già coronata nel superno regno.

Vergine santa, d’ogni grazia piena,
che per vera e altissima umiltate
salisti al ciel onde miei preghi ascolti,
tu partoristi il fonte di pietate
e di giustizia il sol, che rasserena
il secol pien d’ errori oscuri e folti:
tre dolci e cari nomi ài in te raccolti,
madre, figliuola e sposa,
Vergina gloriosa,
donna del Re che nostri lacci à sciolti
e fatto ‘l mondo libero e felice,
ne le cui sante piaghe
prego ch’ appaghe il cor, vera beatrice.

Vergine sola al mondo, senza essempio,
che ‘l ciel di tue bellezze innamorasti,
cui né prima fu simil, né seconda,
santi penseri, atti pietosi e casti
al vero Dio sacrato e vivo tempio
fecero in tua verginità feconda.
Per te pò la mia vita esser ioconda,
s’ a’ tuoi preghi, o Maria,
Vergine dolce e pia,
ove ‘l fallo abondò la grazia abonda.
Con le ginocchia de la mente inchine,
prego che sia mia scorta
e la mia torta via drizzi a buon fine.

Vergine chiara e stabile in eterno,
di questo tempestoso mare stella,
d’ ogni fedel nocchier fidata guida,
pon mente in che terribile procella
i’ mi ritrovo sol, senza governo,
ed ò già da vicin l’ ultime strida.
Ma pur in te l’ anima mia si fida,
peccatrice, i’ nol nego,
Vergine; ma ti prego
che ‘l tuo nemico del mio mal non rida.
Ricorditi che fece il peccar nostro
prender Dio, per scamparne,
umana carne al tuo virginal chiostro.

Vergine, quante lagrime ò già sparte,
quante lusinghe e quanti preghi indarno,
pur per mia pena e per mio grave danno!
Da poi ch’ i’ nacqui in su la riva d’Arno,
cercando or questa ed or quel’ altra parte,
non è stata mia vita altro ch’ affanno:
mortal bellezza, atti e parole m’ ànno
tutta ingombrata l’alma.
Vergine sacra ed alma,
non tardar, ch’ i’ son forse a l’ ultimo anno:
i dí miei, piú correnti che saetta,
fra miserie e peccati
sonsen’ andati, e sol morte n’ aspetta.

Vergine, tale è terra, e posto à in doglia
lo mio cor, che vivendo in pianto il tenne,
e de mille miei mali un non sapea;
e per saperlo pur quel che n’ avenne
fora avenuto, ch’ ogni altra sua voglia
era a me morte, ed a lei fama rea.
Or tu, Donna del ciel, tu nostra Dea,
(se dir lice e convensi),
Vergine d’ alti sensi,
tu vedi il tutto; e quel che non potea
far altri, è nulla a la tua gran vertute,
por fine al mio dolore;
ch’ a te onore ed a me fia salute.

Vergine, in cui ò tutta mia speranza
che possi e vogli al gran bisogno aitarme,
non mi lasciare in su l’ estremo passo;
non guardar me, ma chi degnò crearme;
no ‘l mio valor, ma l’alta sua sembianza
ch’ è in me, ti mova a curar d’uom sí basso.
Medusa e l’ error mio m’ àn fatto un sasso
d’umor vano stillante:
Vergine, tu di sante
lagrime e pie adempi ‘l meo cor lasso,
ch’ almen l’ ultimo pianto sia devoto,
senza terrestro limo
come fu ‘l primo non d’insania voto.

Vergine umana e nemica d’ orgoglio,
del comune principio amor t’ induca:
miserere d’ un cor contrito, umile,
ché se poca mortal terra caduca
amar con sí mirabil fede soglio,
che devrò far di te, cosa gentile?
Se dal mio stato assai misero e vile
per le tue man resurgo,
Vergine, i’ sacro e purgo
al tuo nome e pensieri e ‘ngegno e stile,
la lingua e ‘l cor, le lagrime e i sospiri:
scorgimi al miglior guado
e prendi in grado i cangiati desiri.

Il dí s’ appressa, e non pote esser lunge,
sí corre il tempo e vola,
Vergine unica e sola,
e ‘l cor or coscienzia or morte punge:
raccomandami al tuo Figliuol, verace
omo e verace Dio,
ch’ accolga ‘l mio spirto ultimo in pace.